reflexao • 30Out '2013
Eu nunca vi...
Eu nunca vi um Papa pegar o avião carregando uma maleta. Eu nunca vi um Papa preso num engarrafamento dentro de um Fiat com uma multidão ao redor. Eu nunca vi um Papa manter o vidro do carro abaixado para estender a mão e tocar as pessoas. Eu nunca vi um Papa andando rapidinho. Eu nunca vi um Papa indo na direção que não se espera que ele vá. Eu nunca vi um Papa sair debaixo do guarda-chuva. Eu nunca vi um Papa entrando no meio da multidão. Eu nunca vi um Papa perguntar: -Por acaso a gente visita alguém de quem gosta, um amigo, dentro de uma caixa de vidro? Eu nunca vi um Papa responder não à pergunta que fez balançando o indicador. Eu nunca vi um Papa dizer que pode levar um soco. Eu nunca vi um Papa dizer que é inconsciente. Eu nunca vi um Papa deixar a segurança tonta. Eu nunca vi um Papa dizer é tudo ou nada. Eu nunca vi um Papa dizer que, ou a gente faz a viagem com comunicação humana como deve ser, ou não faz. Eu nunca vi um Papa dizer que comunicação pela metade não faz bem. Eu nunca vi um Papa chegar dizendo: permitam-me que nessa hora eu possa bater delicadamente a esta porta, peço licença para entrar. Eu nunca vi um Papa dar bom dia e exclamar que bom estar aqui. Eu nunca vi um Papa dizer como é bom ser bem acolhido. Eu nunca vi um Papa abraçar em vez de dar a mão para beijar. Eu nunca vi um Papa tocar o ombro do motorista pedindo para o papamóvel parar Eu nunca vi um Papa descer de repente do papamóvel. Eu nunca vi um Papa trocar o solidéu por outro que um fiel lhe estendeu de presente Eu nunca vi um Papa afagar criança com ternura sem que seja para aparecer na foto Eu nunca vi um Papa ser chamado de fofo até por não católicos ou ateus. Eu nunca vi um Papa reunir no frio e na chuva uma multidão maior do que Réveillon ou Carnaval. Eu nunca vi um Papa sempre alegre e bem-humorado. Eu nunca vi um Papa falar tantas vezes a palavra alegria, com alegria. Eu nunca vi um Papa com cara de quem faz arte. Eu nunca vi um Papa que dá vontade de fazer arte. Eu nunca vi um Papa inspirar tantas esculturas de areia na praia e provocar a transformação do “fio dental” em minissaia. Eu nunca vi um Papa que não fala em pecado. Eu nunca vi um Papa a quem eu confiaria um segredo. Eu nunca vi um Papa falar pouco e dizer muito. Eu nunca vi um Papa que dá vontade de ouvir o que ele diz. Eu nunca vi um Papa coerente. Eu nunca vi um Papa didático. Eu nunca vi um Papa explicar primeiro isto, segundo isso, terceiro aquilo. Eu nunca vi um Papa perguntar:- Estão me entendendo? Eu nunca vi um Papa dizer coisas que todo mundo entende. Eu nunca vi um Papa não dar uma de sabichão, autoridade, dono da verdade. Eu nunca vi um Papa falar sem rodeios, dizer: olha, o que eu espero é o seguinte: Eu nunca vi. Eu nunca vi!... Claudio Pfeil |
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