Riolândia atrai “caçadores” de Extraterrestres.

A febre de óvnis continua mobilizando boa parte da população de Riolândia, cidade a 280 km de Ribeirão Preto, na divisa com Minas Gerais. Desde o mês passado, estranhas marcas aparecem em canaviais e luzes não identificadas riscam o céu durante a madrugada.
Até o início de fevereiro, apenas um hóspede da pousava Piapara, onde tudo começou, havia conseguido filmar o que seriam objetos voadores não identificados. Agora, vários moradores e até o dono da pousada gravaram as luzes e já surgem depoimentos de pessoas que garantem ter visto, de perto, um óvni.
O depoimento do lavrador Aparecido Marques Alves de Souza, 25 anos, é um dos mais fortes. “Era de madrugada, dia 19 do mês passado. Eu e meu irmão estávamos de barco, pescando no rio Grande. De repente, escutei um barulho estranho, vindo de cima, achei que era um avião”, conta ele.
“Olhei para cima e avião não era, era quadrado, parecia um vagão de trem. O troço passou devagar sobre a gente e desceu num canavial”, lembra.
O pescador não gostou do que viu. “Virei pro meu irmão e falei - Vamos vazar que isso é coisa de assombração”, conta.
O depoimento, filmado, foi coletado pelo ufólogo Roberto Affonso Beck, 74 anos, e pelo auxiliar Herbert Brüggemann, 51 anos, da equipe da Entidade Brasileira de Estudos Extraterrestres, que desde a semana passada mantém um esquema de vigília nas noites de Riolândia - durante o dia, gravam depoimentos de moradores que teriam testemunhado a aparição do óvni.

“É bonito”
Rodolpho Probio Bueno, 18 anos, balconista, exibe orgulhoso, num computador, as imagens gravadas por ele às 4h do último dia 7.
“Eu já tinha visto, mas estava sem a filmadora. A aparece primeiro uma luz, que depois vira duas e no final, três. Essa última é sempre a maior, meio avermelhada. Elas formaram um triângulo no céu e depois foram em direção ao rio Grande”, descreve. “É muito bonito e de longe não dá para ter medo. Se elas viessem em minha direção, aí não sei não...”, brinca.
Segundo Rodolpho, vários amigos seus também já viram as estranhas luzes no céu de Riolândia. “Virou divertimento, a gente fica acordado durante a madrugada vasculhando o céu”, explica.

Planeta, não
Pesquisando óvnis há 51 anos, o ufólogo Roberto Beck recomenda que se concentrem as atenções sobre as marcas nos canaviais, e não sobre as luzes no céu.
“Todas as possíveis causas naturais estão descartadas, e não é por nós, mas pelo agrônomo e pelo meteorologista que a Prefeitura de Riolândia trouxe para cá em janeiro. A primeira coisa a fazer é descobrir como surgem essas marcas nos canaviais”, comenta.
Segundo Victor Diogo da Silva, 20 anos, filho do dono da pousada, já são mais de cem as áreas tombadas nos canaviais. A maior tem cerca de 60 metros de diâmetro. A cana amanhece apenas tombada - os pés não se quebram. Por isso, em pouco dias os pés voltam ao normal e os donos da cana não reclamam de prejuízo.
“Nas áreas maiores, a cana só tomba e continua verde. Nas menores, além de tombar, a cana amarela, fica seca de uma vez”, explica.
Jorge Nery, da Ong Instituto Nacional de Astronomia e Pesquisas Espaciais, enviou essa semana uma ofício à Aeronáutica, pedindo ajuda para esclarecer o que ocorre em Riolândia.
Contatado, o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais, órgão do governo federal, disse não ter registro de nada de anormal na área de Riolândia.
O ufólogo Beck, porém, insiste: “Uma coisa grande está andando por aqui”.

Música debocha de ET
Desde o mês passado não se fala em outra coisa em Riolândia - os óvnis que estariam pousando em canaviais ao lado do rio Grande são o grande (e único) assunto da cidade de menos de dez mil habitantes.
Por isso, o locutor de rodeios, cantor e compositor Jorge Moisés, 35 anos, que ganhou fama local com letras de suco sentido, não perdeu tempo e compôs “ET de Riolândia”, já gravada em CD.
A letra é hilária. O ufólogo Roberto Beck ouviu e não gostou. “Isso é gozação, é brincadeira com coisa séria”, reclama.
O comerciante Marcos, 35 anos, irmão do compositor, contou na última quinta-feira que Jorge Moisés estava em São Paulo, “colocando arranjo na música”, já que a gravação original é só com violão.
“O sucesso da música aqui na região é tão grande que ele quer lançá-la em nível nacional”, explica.
A letra conta a história de um pescador convidado a ir com os ETs. Trechos selecionados:
“Eu estava no rio dando uma de pescador/ quando eu vacilei meu anzol afundou/dei um puxão na vara que o peixe levantou/quando eu olhei para cima vi um disco voador”.
“Eu fiquei com medo e comecei a tremer/tudo iluminado lotadinho de ET/chamou para ir com eles e tive de responder/então eu respondi/Vâmo-Ete, Vâmo-Ete”.
“E sobe ET/e desce ET/cavuca ET/Vâmo-Et/Vâmo-Et”.

Pousada compra filmadora
Toda a polêmica sobre óvnis em Riolândia começou com Maurício Pereira da Silva, 39 anos, dono da pousada Piabara, que na madrugada de 19 de janeiro teria sido o primeiro a ver a o objeto voador não identificado.
Ele tinha acordado de madrugada e da janela da cozinha avistou um grande objetivo pairando sobre um canavial.
Assustado, Maurício voltou para o quarto e se trancou. Ao amanhecer, foi até o local e descobriu a primeira área com cana tombada.
Nos dias seguintes, vários hóspedes avistaram e mesmo filmaram estranhas luzes no entorno da pousada. E Maurício, sem máquina fotográfica ou filmadora, apenas acompanhava a movimentação noturna de seus hóspedes.
“Aí não agüentei mais. Fui até São José do Rio Preto e comprei uma filmadora e um tripé. Também queria ter a chance de gravar essas imagens”, conta ele, que desembolsou mais de R$ 1 mil no equipamento.
E deu certo. Na madrugada de quarta para quinta-feira última, durante sua vigília noturna, a luz voltou a aparecer e foi devidamente gravada. E a emoção dele aparece claramente durante a exibição das imagens.
Quando a luz aparece, ouve-se uma voz nervosa: “Está gravando? Está gravando?”. Fora do tripé, a filmadora treme na mão do experiente pescador, acostumado com outro tipo de apetrecho.
“Mas valeu a pena. Agora eu não descrevo o que vi. Eu mostro a gravação”, comemora.

“Rastro de ET” ou de bicho
A febre de óvnis em Riolândia é tal que até rastros de ETs são procurados em meio aos canaviais. E tem gente que encontra, filma e exibe rastros diferentes como se fossem de seres extraterrestres.
Uma das filmagens que mais sucesso faz entre os moradores é a de pegadas de um animal com cinco dedos.
A Cidade exibiu fotos das pegadas para o zootecnista Alexandre Gouvêa, do Bosque e Zoológico Municipal “Fábio Barreto”, de Ribeirão Preto.
“Primeiro descartamos os felinos. Onça, jaguatirica, nada disso combina com essas marcas, que já os rastros deles têm apenas quatro dedos”, explica Gouvêa.
“Primatas, também não pode ser, já que o dedo equivalente ao nosso polegar estaria na horizontal em relação aos demais dedos”, destaca.
“A única espécie que existe naquela região e deixa marcas semelhantes é o mão-pelada, um carnívoro”, afirma Gouvêa. “Se o solo estiver bem úmido, e for um animal adulto, pode deixa rastros como esses”, diz.
O mão-pelada (Procyon cancrivorus) é um mamífero carnívoro da família dos procionídeos bastante parecido com os quatis e os guaxinins (mas sem as patas esbranquiçadas).
Essa espécie habita uma extensa região que vai da Costa Rica ao Uruguai. Medem cerca de 60 cm e têm patas com cinco dedos. Também são conhecidos pelos nomes de cachorro-do-mangue, iguanara, jaguacampeba e jaguacinim.