Meio homem, meio bactéria.
É isso mesmo. Não adianta fazer cara de nojo. Se você desmontar o corpo humano inteiro, célula por célula, e separar o que é bactéria de um lado e homem do outro, os micróbios ganham de lavada.
Segundo algumas estimativas, o organismo humano é formado por aproximadamente 10 trilhões de células (o número 1 seguido de 13 zeros). Mas o número de bactérias vivendo no nosso intestino pode ser 10 vezes maior: 100 trilhões! Isso só é possível, claro, porque cada bactéria é muito menor do que uma célula humana.
Ainda assim, é tanta bactéria que, juntas, elas podem pesar até 4 quilos!
A maior parte dos micróbios vive no sistema digestivo. O intestino grosso é uma verdadeira salsicha de bactérias - a chamada flora intestinal. E isso é ótimo, pois elas são essenciais para a nossa capacidade de digerir certos carboidratos complexos e para outros serviços metabólicos em geral, como a reabsorção de água e nutrientes pelo intestino.
Trata-se de uma relação benéfica para ambos os lados. As bactérias prestam seus vários serviços digestivos (sem elas não conseguiríamos digerir o amido, por exemplo, um importante carboidrato de batatas e cereais) e, em troca, recebem carta branca para viver dentro de nós sem serem importunadas. De alguma forma o sistema imunológico, que normalmente ataca qualquer coisa estranha que aparece pela frente, reconhece que essas bactérias são benéficas e permite que elas fiquem por lá. Mas os cientistas não sabem exatamente como isso funciona, ainda.
Um grande projeto foi lançado recentemente nos Estados Unidos para estudar geneticamente essas bactérias e tentar entender melhor como elas interagem com o nosso corpo, na saúde e na doença. É o Projeto Microbioma Humano, equivalente microbiano do Projeto Genoma Humano.
Só no intestino grosso estima-se que haja cerca de 500 espécies de bactérias. Talvez milhares! Entre elas, não poderia faltar a nossa querida Escherichia coli, mais conhecida como coliformes fecais, que infelizmente nunca recusa um convite para ir à praia ou tomar um banho de rio.
Segundo o microbiólogo e médico infectologista Vincent Young, da Universidade do Estado de Michigan, nos EUA, as bactérias começam a invadir nosso organismo imediatamente no nascimento, quando o bebê passa pela canal uterino da mãe. Mas o tamanho e a composição da flora intestinal variam de pessoa para pessoa, dependendo de fatores como dieta, uso de antibióticos e “quanta terra você comeu quando criança” - literalmente!
Estudos indicam que seria possível viver sem a ajuda dessas criaturinhas, mas nossa dieta precisaria ser bastante diferente. Pense nisso da próxima vez que subir na balança da farmácia ou comer uma batata frita na lanchonete.