Sonda obtém fotos inéditas de nuvens misteriosas.
A sonda AIM está obendo a primeira visão global desse tipo de nuvem |
Visíveis apenas durante a noite, as nuvens noctilucentes se formam cerca de 80 quilômetros acima da superfície.
Elas fascinam e confundem os especialistas, que não conseguem explicar sua existência em regiões onde a umidade é mínima.
A sonda AIM acaba de enviar as primeiras imagens globais do fenômeno, que parece estar aumentando em freqüência e extensão.
Segundo os cientistas, suas observações mostram que as nuvens se alteram rapidamente, de hora em hora e diariamente.
Eles esperam que novos estudos revelem que fatores desencadeiam a formação das nuvens e por que esses fatores parecem estar sofrendo alterações de longo prazo.
Nuvens Mais Altas
"Essas nuvens estão ficando mais brilhantes com o tempo, são vistas com mais freqüência e também estão sendo vistas em latitudes mais baixas", disse James Russell, da Hampton University, no Estado da Virginia, Estados Unidos.
"São coisas que não entendemos e que indicam uma possível conexão com mudanças globais", disse Russell à BBC. "Precisamos entender esta conexão e o que ela significa para a atmosfera como um todo".
Russell fez suas declarações durante um congresso da American Geophysical Union, em San Francisco, nos Estados Unidos.
Ele é o principal investigador da missão AIM, uma sonda de 195 quilos lançada em abril desse ano.
Posicionada 600 quilômetros acima da superfície da Terra, a sonda está no lugar ideal para estudar as nuvens noctilucentes.
Elas se formam em grandes altitudes durante os meses de verão em um ambiente de temperatura extremamente baixa (-160ºC), baixíssima umidade (cem mil vezes mais seco do que o deserto do Saara) e baixíssima pressão (cem mil vezes menor do que a pressão na superfície da Terra).
Nuvens Noctilucentes
As mudanças em freqüência e brilho vêm sendo observadas por satélites nos últimos 30 anos
As nuvens são visíveis durante o verão em latitudes altas - entre 50 e 65 graus ao norte e ao sul
Recentemente, têm sido avistadas em latitudes tão baixas como 40 graus norte e tornaram-se um alvo popular para fotógrafos amadores
Um estudo sugeriu que a água que sai de exaustores de ônibus espaciais poderia estar contribuindo para as alterações -e a sonda AIM vai investigar essa teoria |
Russell disse que os três instrumentos da sonda AIM mostram as nuvens sob uma perspectiva completamente nova.
Ele disse que os cientistas nunca tínham visto uma foto de toda a região polar antes.
Agora, não apenas possuem essas imagens, mas podem observar as nuvens todos os dias.
"Ver essas nuvens diariamente já é em si uma revelação - podemos ver como variam todos os dias, de órbita em órbita", disse Russell.
A partir das imagens enviadas pela sonda AIM, fica claro que a região onde as nuvens se formam parece se deslocar em torno do Ártico em perídos de cinco dias.
A rotação em longitude coincide com variações de temperatura observadas.
"O interessante é que a magnitude das variações de temperatura é de apenas cinco graus Fahrenheit (equivalente a uma variação de 3º Celsius)", disse Scott Bailey, outro pesquisador da missão AIM, trabalhando no Virginia Polytechnic Institute and State University.
"Então, uma mudança muito pequena na temperatura leva a mudanças dramáticas no comportamento das nuvens. Concluímos a partir disso que essas nuvens são um medidor muito sensível de mudanças na temperatura", explicou.
Nuvens noctilucentes precisam de temperaturas baixas, vapor de água e pequenas partículas de poeira em torno das quais a água pode se condensar e se congelar, formando cristais de gelo.
Alguma coisa deve estar alterando esta "receita" para mudar o comportamento das nuvens nos últimos anos.
A equipe da missão AIM disse estar confiante de que a sonda vai permitir um maior entendimento dos fatores em jogo.