Sonda européia mostra que Vênus e a Terra nasceram iguais.

 O hemisfério sul de Vênus, fotografado em luz ultravioleta

ESA

O hemisfério sul de Vênus, fotografado em luz ultravioleta

SÃO PAULO - O planeta Vênus, desprovido de água e que enfrenta um efeito estufa catastrófico, com temperaturas médias de mais de 400º C, pode ter sido um "irmão gêmeo" da Terra quando os dois mundos se formaram, há cerca de 4 bilhões de anos. A constatação, que abre a possibilidade de Vênus ter abrigado vida no passado, vem da análise dos dados reunidos pela sonda européia Venus Express, que estuda o planeta vizinho desde maio de 2006.

Os dois planetas têm praticamente o mesmo tamanho e massa, mas Vênus é um deserto quente o bastante para derreter chumbo ao nível do solo. Além disso, a atmosfera venusiana exerce uma pressão 90 vezes maior que a terrestre, é povoada por nuvens de ácido sulfúrico e composta, principalmente, de dióxido de carbono - lá como cá, o principal gás do efeito estufa.

 Em comparação, a maior parte da superfície da Terra é coberta por oceanos e, mesmo com o acúmulo propiciado por 200 anos de atividade industrial, aqui o CO2 não passa de 0,04% da atmosfera, contra 97% em Vênus. 

Mas, de acordo com uma elaboração feita a partir dos dados da Venus Express - apresentada em uma série de nove artigos na edição desta semana da revista Nature - os dois planetas podem ter começado de modo muito semelhante, numa espécie de meio-termo entre as condições atuais de ambos: os dois teriam, na origem, contado com vastos oceanos e atmosferas repletas de CO2.  

Então algo aconteceu, e Vênus se transformou no que o astrônomo Carl Sagan certa vez definiu como "o planeta infernal". 

Oceanos ferventes 

"Não sabemos exatamente como", reconhece o pesquisador Hakan Svedhem, cientista-chefe da missão Venus Express e principal autor do artigo de abertura na série da Nature.  

"Mas um cenário é que, como Vênus fica mais perto do Sol, ele se aqueceu, e mais vapor d água entrou na atmosfera". Vapor também é um potente gás do efeito estufa, e o acúmulo teria levado a um aquecimento global descontrolado, até os mares ferverem. 

"Quando a temperatura aumentou ainda mais, o carbonato nas rochas começou a soltar dióxido de carbono, e a temperatura aumentou ainda mais", prossegue Svedhem. Hoje, o cientista lembra, Vênus não tem um campo magnético. "Se naquela época o campo já não existia, isso teria ajudado a água a escapar para o espaço, já que um campo magnético forte protege a atmosfera contra a erosão pelo vento solar". 

Não se sabe exatamente quando os caminhos da Terra e de Vênus divergiram - "pode ter sido a qualquer momento entre 4 bilhões e 1 bilhão de anos atrás", diz Svedhem - mas, se a semelhança durou mais que algumas centenas de milhões de anos, é possível que vida tenha evoluído em Vênus: os mais antigos vestígios de vida terrestre, colônias de bactérias chamadas estromatólitos, datam de mais de 3 bilhões de anos.  

Essa vida teria resistido às mudanças que ocorreram em Vênus desde então? 

"É difícil imaginar vida na superfície hoje", pondera Svedhem, "mas em teoria ela poderia existir nas nuvens". Vênus tem uma atmosfera extremamente densa e ativa - um dos feitos da Venus Express, aliás, foi confirmar a existência de relâmpagos ali. "A cerca de 60 km de altitude, a pressão e a temperatura são muito parecidas com as da superfície da Terra, embora a química seja muito diferente". 

Futuro da Terra 

Mesmo contando com as vantagens de uma distância maior do Sol e de um forte campo magnético, a Terra deverá ficar muito parecida com Vênus no futuro, mas não por conta do aquecimento global provocado pelo homem.  

"Mesmo se todos os combustíveis fósseis que existem sobre e dentro da Terra queimassem descontroladamente, isso não aconteceria", diz o pesquisador. "O oceano teria de ferver primeiro". 

 "Mas o Sol envelhece, e em poucos bilhões de anos ele se tornará uma estrela gigante vermelha. Sua superfície chegará cada vez mais perto da Terra", pondera Svedhem. "Então, é provável que isso (a ebulição dos oceanos) aconteça".

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