É hora de lutar pela paz.
Pequenas ações podem ajudar a tornar o mundo um lugar com mais harmonia; comece hoje mesmo a praticar.
Pequenas ações individuais podem ajudar a tornar o mundo em que vivemos um lugar com mais paz e mais harmonia. Basta que cada cidadão tome consciência de que isso é, além de possível, necessário. A opinião é de especialistas ouvidos pela reportagem da Gazeta durante a semana.
Uma ação isolada de incentivo à paz não resolve o problema da violência no Brasil, dizem, mas pode ser o ponto de partida para mudança de comportamento em quem pratica e em quem recebe o que se pode chamar de gentileza. Pensando nisso, a Gazeta aponta uma série de dicas de como incentivar e disseminar a paz através de pequenas ações no cotidiano dos moradores de Ribeirão.
Segundo psicólogos, sociólogos e pesquisadores, a violência é hoje um dos problemas que mais afligem a sociedade. Em Ribeirão não é diferente. Ela pode ser classificada em níveis ou grupos. Os mais graves, em casos extremos e em geral cometidos por “criminosos”, são agressão, furtos, roubos e até homicídios.
Os menos graves, mais comuns e presentes na vida das pessoas e cometidos por todos nós, são as brigas no trânsito, a falta de paciência nas relações pessoais e de trabalho e até coisas mais simples como discussões em casa, com filhos ou parceiros.
Entre as dicas dos especialistas, atos que podem reduzir o estresse e a violência no trânsito e gentilezas como dar o lugar a pessoas mais velhas na fila ou no transporte coletivo e sorrir com mais freqüência.
A violência está presente em toda a história da humanidade. Reduzi-la sempre foi motivo de discussão. Por exemplo: Há mais de 300 mil veículos trafegando pelas ruas de Ribeirão. Se cada um dos motoristas vive ao menos uma situação de hostilidade a cada dia, há mais de 300 mil pequenos casos de agressividade.
Evitar esses eventos é lutar pela paz. Pode ajudar a reduzir o estresse individual e coletivo e aproximar as pessoas.
O líder espiritual Dalai Lama, do budismo, disse esta semana ao jornal espanhol La Vanguardia que para encontrar a paz é preciso fugir do ódio. "Este sentimento destrói o sistema imunológico", diz. Ele, um "especialista" em paz, acredita que as emoções positivas, como amor e compaixão, além de trazerem paz, são boas para a saúde e reduzem o estresse.
Objetivos e ações que estabelecem o dia-a-dia do ser humano, como dinheiro, competição, correria e falta de tempo para reflexão, contribuem para a ausência de harmonia e paz. Porém, a sociedade tem se movimentado através de movimentos voluntários, ONGs e expressões da fraternidade e da solidariedade.
A Gazeta conversou com dez pessoas aleatoriamente e questionou o que cada uma delas entendia pelo conceito de paz. Além disso, quis saber o que cada um faz durante sua rotina para disseminar a paz e a harmonia. A maioria dos entrevistados demonstrou dificuldade para definir o conceito e para apontar as ações de paz que adota no seu cotidiano.
O dono de lan house Pedro Pereira Azevedo Lima tenta disciplinar os casos de estresse entre as pessoas do seu convívio. "Eu procuro manter a harmonia dentro no meu comércio, se alguém chega com algum problema procuro ajudá-lo da melhor maneira possível", diz.
Uma das formas para adquirir equilíbrio é praticando ioga, filosofia que coloca em forma o corpo e a mente.
Maria Oliveira trabalha em loja que comercializa artigos exotéricos. Vela, incenso e cristais ajudam a manter harmonia, diz. "O incenso Angélica traz paz e harmonia, além de afasta o mal e a negatividade", afirma a vendedora. E dá uma dica: Para encher um ambiente com sensações de paz acenda um incenso na entrada e caminhe com por todos cômodos, depois deixa o incenso queimar até o final.
Segundo psicólogo Wilson José Alves Pedro, a humanidade jamais teve uma época de paz plena, embora seja este um dos valores defendidos. "As gerações anteriores foram mentirosas conosco ao dizer que houve um tempo em que havia mais paz do que nos dias de hoje".
Para ele, há diferentes tipos de ações que levam à paz. As individuais vão desde a transformação de encontros corriqueiros em momentos tranqüilos e prazerosos até o fazer bem ao próximo. Quando se trata de ações comunitárias é importante que haja interesse em viver em paz e também em propagá-la.
"É preciso que haja mais incentivo e mobilização das pessoas para praticar boas ações", afirma Alves, que acha que os governos podem fomentar a paz com ações sociais. "Acabar com a miséria, minimizar as contradições, facilitar o acesso à saúde, educação, transporte e lazer são ações para promover a paz", disse.
Segundo o sociólogo Sérgio Vinicius de Lima Grande, hoje a sociedade vive em um contexto social em que a idéia é obter mais dinheiro em menos tempo e a qualquer custo, entrando em evidência uma enorme competição pelo poder. "O momento atual é caracterizado pelo capitalismo selvagem", afirmou.
Para o mestre em sociologia política e historiador Delson Ferreira, a globalização, o individualismo e a falta de tempo decorrente de muito trabalho causam o estresse e violência. "A soma desses fatores acarreta a desarmonia", disse. Daí a necessidade de se conquistar da paz individual e social parra solucionar problemas.
Tatiana Batistela, que faz artesanato, diz que encontra a paz quando trabalha. “Me concentro no trabalho e isso me faz ter paz até em casa. Isso me faz ter harmonia para a vida”.
Respiração pode ajudar
A prática da ioga leva ao relaxamento, à tranqüilidade mental e o entendimento interior. Ao adquirir o equilíbrio, a mente humana fica neutra, controlando as emoções com mais facilidade.
Durante o dia, a respiração pode ajudar a conter o estresse. Experimente: Concentre sua mente na respiração. Inspire por 4 segundos, faça uma pequena pausa e expire devagar. Você pode usar as técnicas de respiração na fila, no trabalho ou dirigindo.
A ioga tem fácil aplicação na vida diária e para o corpo entrar em harmonia com a mente basta sentir a respiração e diminuir o ritmo. "Quando a respiração acalma, acalma também a mente e diminui a ansiedade", afirma Lais Moreira, que dá aulas.
Alguns caminhos para estar apto a pregar a paz: Praticar um esporte, atividades culturais, meditação, contato com a natureza e religião. "Para manter a calma, um pouco de silêncio e contato com gente", disse.
Segundo a doutora em psicologia fenomenológica e professora da Unip Isabel Cristina Carniel o ser humano precisa se conhecer melhor. "É possível controlar a raiva à medida que a pessoa sabe quem ela é", disse.
A psicóloga acredita que a paz está ligada à convivência harmoniosa consigo mesmo e com o mundo. "Eu não vejo um outro lugar para buscar paz se não dentro da gente mesmo", opina. A pessoa que está em harmonia, transmite a paz naturalmente com uma ação passiva de propagar a paz. "Não se preocupe com os outros, muda você que naturalmente o ambiente a sua volta mudará", afirma Lais.
(Gazeta de Ribeirão)
Observatório da Violência
Para construir uma cultura de paz não basta balançar bandeiras brancas. É necessário resgatar a união da sociedade e o espaço da instituição pública com uso de arte, cultura e ciência. A afirmação é de Sérgio Kodato, coordenador do Observatório da Violência e Práticas Exemplares, da USP-RP, e professor de psicologia.
O observatório desenvolve pesquisas na área de violência e estratégias para propagação da paz. "Voltar a pedir uma xícara de açúcar emprestada ao vizinho é uma maneira de recuperar a solidariedade e fazer paz”, disse o pesquisador.
O conceito de paz tem evoluído na história recente da humanidade. Para Kodato, paz não é mais a simples ausência de guerras. Ele diz que em toda situação onde o homem está presente há conflitos e que a briga faz parte da defesa de interesses e do desejo de competição.
"Quando se vive em sociedade é preciso ceder em favor dos outros", fala Sérgio Kodato. Recuperar a religião com intenção de atingir a passividade, melhorar o funcionamento das instituições como a justiça, escola, polícia e saúde também são formas de buscar a paz.
"Essas instituições não estão funcionando como deveriam", opina o professor. É fundamental recuperar a noção de bem comum, espírito coletivo e comunidade. "As pessoas podem promover boas ações para diminuir os efeitos danosos do imaginário do medo", diz.
Observatório da Violência trabalha com alunos de escolas públicas em oficinas de criação e expressão.
ENVIE para a Redação um relato sobre seus atos para disseminar a paz em sua vida: [email protected].
ANGELITA BEATRIZ