Encontrada água em planeta de fora do Sistema Solar.

Esta é a primeira vez que sinais de água são detectados em um mundo extra-solar.

Carlos Orsi

Divulgação/Nature
Ilustração do Júpiter quente HD 189733b, que orbita perto de sua estrela

SÃO PAULO - Ao analisar a luz de uma estrela, depois de filtrada pela atmosfera do planeta HD 189733b, uma equipe internacional de cientistas concluiu que o mundo, um gigante gasoso semelhante a Júpiter, tem água.

A aparente ausência de água nos planetas localizados fora do Sistema Solar vinha intrigando cientistas há tempos, e a detecção da substância em HD 189733b é a primeira considerada conclusiva.

As observações mais recentes, descritas na edição desta semana da revista Nature, foram conduzidas por uma equipe liderada por Giovanna Tinetti, da Agência Espacial Européia (ESA). HD 189733b orbita uma estrela na constelação de Vulpecula, a 64 anos-luz do Sol.

O planeta tem a propriedade de passar diretamente entre sua estrela e a Terra, o que permitiu aos cientistas analisar a luz estelar que atravessa as bordas de sua atmosfera. Eles descobriram que o planeta projeta uma “sombra” maior quando observado em uma faixa de luz específica, e concluíram que esse efeito é produzido pela absorção dessa faixa pela água presente na atmosfera.

Tentativas anteriores de detectar água em HD 189733b obtiveram resultados negativos, mas a equipe de Tinetti atribui isso ao fato de as pesquisas terem analisado o calor emitido pelo próprio planeta – girando uma distância de sua estrela inferior a 3% da que separa a Terra do Sol, o planeta teria uma atmosfera quente o bastante para “borrar” as diferenças de temperatura que permitiriam identificar a presença de água.

Escrevendo em comentário sobre a descoberta também publicado na Nature, a astrônoma Heather A. Knutson, da Universidade Harvard, diz que ainda há muito a se aprender sobre planetas como HD 189733b, chamados de “Júpiters quentes” – por exemplo, como eles se posicionam tão perto de suas estrelas. “A força surpreendente do sinal (de água) é outra demonstração de que o que descobrimos nunca é exatamente o que nossos modelos tinham levado a prever”, escreve.

Em nota sobre a descoberta divulgada pelo University College London, onde também atua, Giovanna Tinetti diz que “embora HD 189733b esteja longe de ser habitável, e de fato tenha um ambiente bastante hostil, nossa descoberta mostra que a água pode ser mais comum do que se pensava, e nosso método poderá ser usado, no futuro, para estudar ambientes mais amigáveis para a vida”.

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