Genoma é muito mais que uma lista de genes, mostra estudo.
Trabalho publicado na revista Nature mostra que a maior parte do genoma se expressa, o que contraria a visão dominante até agora, sobre o ´DNA lixo´
LONDRES - Há muito mais no DNA humano do que os genes. Confrontando a visão de que o código genético humano é formado por alguns milhares de genes, cercados por material inútil - o chamado "DNA lixo" - uma série de estudos do projeto Enciclopédia de elementos do DNA ("Encode"), publicados nas revistas Nature e Genome Research, mostra que a maior parte do genoma humano, de fato, acaba se expressando, mesmo em trechos que, aparentemente, não determinam a formação de proteínas.
Em comentário que acompanha o artigo da Nature, o geneticista John M. Greally diz que o trabalho do grupo Encode, que avaliou 1% do genoma humano, mostra que "o genoma é muito mais que um mero veículo para os genes, e lança luz sobre o extenso processo molecular de tomada de decisões que ocorre antes que um gene se expresse".
A visão do DNA humano oferecida pelo Projeto Genoma Humano mostrava cerca de 3 bilhões de bases, com cerca de 22 mil genes e algumas poucas seqüências que controlavam a expressão desses genes. Mas o novo trabalho mostra que a maior parte do genoma é transcrita em RNA - a molécula que controla a atividade da célula.
"Esta é uma descoberta notável, já que a maior parte das pesquisas anteriores indicava que apenas uma pequena fração do genoma é transcrita", disse Tim Hubbard, do Wellcome Trust Sanger Institute. O instituto faz parte do Encode.
Segundo Hubbard, o estudo mostra "uma nova compreensão" da regulagem da atividade genética.
Muitos estudos anteriores da atividade dos genes, principalmente em bactérias, sugeriam que as regiões de controle ficavam localizadas perto das áreas onde a transcrição dos genes tem início. O novo trabalho identifica diversas regiões de controle até agora desconhecidas. Além disso, transcrições do DNA em RNA foram encontradas em regiões do genoma antes vistas como "desertos".
Em seu comentário, Greally diz que a tentativa de explicar a função das longas transcrições de DNA que não se traduzem em proteínas ainda é "altamente especulativa", e questiona como o Encode prosseguirá para estender seu estudos aos 99% restantes do genoma humano. "Se o projeto quiser ter sucesso em definir cada elemento regulatório do genoma, os pesquisadores terão de estudar o genoma completo de cada tipo de célula, uma tarefa assustadora".