Obrigado, meu Pai.

Quando você pensava que eu não estava olhando, eu vi você sendo romântico, e descobri que o romantismo é uma dádiva a ser cultivada.                             

Quando você pensava que eu não estava olhando, eu vi você sendo carinhoso e respeitoso com minha mãe, sempre protegendo-a e cobrindo-a de elogios, e sendo agradecido por tudo que ela era e é, e isso ajudou-me muito a valorizar minha esposa e a mãe de meus filhos, tratando-a com dignidade e amor (embora não tanto quanto ela merece).                          

Quando você pensava que eu não estava olhando, eu vi você me deixando livre para escolher minha profissão, repetindo e repetindo que não importava o que eu quisesse ser, você sempre me apoiaria,e recomendava apenas que eu me esforçasse para ser o melhor possível naquilo que eu escolhesse. E isso me guiou por todos os passos que dei na minha vida, havendo influenciado todas as minhas escolhas.                       

Quando você pensava que eu não estava olhando, eu vi você falando sempre que não devíamos julgar ninguém, e já adulto descobri que Deus dizia a mesma coisa na Bíblia, e como este conselho me fez rever certos comportamentos arrogantes que eu tinha, e eu pude tornar-me uma pessoa melhor.                            

Quando você pensava que eu não estava olhando, eu vi você nos levando para passear, pescar e brincar nos rios e corredeiras de Cuiabá, e ali ficaram marcados no meu coração momentos preciosos de apreciação da natureza e de convívio familiar.                             

 Quando você pensava que eu não estava olhando, eu vi você abrindo as portas de sua casa a seus amigos e aos amigos de seus filhos, cedendo até seu quarto  e sua cama, e isso me fez entender o valor da hospitalidade, que mais tarde aprendi ser também um conceito bíblico.                          

Quando você pensava que eu não estava olhando, eu vi você consertar o meu brinquedo favorito e eu aprendi que as coisas pequenas podem ser as mais especiais na nossa vida.                            

Quando você pensava que eu não estava olhando, eu vi você alegre, sorridente e brincalhão, mesmo quando as coisas não iam muito bem em certas áreas, e isso me fez enxergar o valor da atitude.                

Quando você pensava que eu não estava olhando, eu vi você dando seu tempo e seu dinheiro para ajudar pessoas mais necessitadas e eu aprendi que aqueles que têm alguma coisa devem ajudar quem nada tem, e isso colaborou para o espírito voluntário que eu tenho hoje.                             

Quando você pensava que eu não estava olhando, eu vi você me dando um beijo de boa noite e me senti amado e seguro.                             

Quando você pensava que eu não estava olhando, eu vi como você cumpria todas as suas responsabilidades, mesmo quando não estava se sentindo bem, e eu aprendi que tinha que ser responsável quando crescesse.                             

Quando você pensava que eu não estava olhando, foi quando eu aprendi a maior parte das lições de vida, que eu precisava para ser uma pessoa boa e completa quando eu crescesse.                             

Quando você pensava que eu não estava olhando, eu olhava para você e queria lhe dizer: obrigado por todas as coisas que eu vi e aprendi quando você pensava que eu não estava olhando! Pois quero dizer-lhe isto agora:
                           

OBRIGADO, MEU PAI.

Você me deu tudo o que todos querem, mas poucos têm. Você me deu coisas que não têm preço, que não podem ser medidas nem compradas, coisas que jamais poderei pagar ou retribuir... Mas posso tentar dá-las aos meus filhos, e acho que essa é a maior recompensa: saber que seus valores mais preciosos, que a traça não corrói e a ferrugem não come, permanecerão geração após geração, marcados nos corações daqueles que ganharam e ganharão a benção de serem seus descendentes.

Obrigado, meu pai.

 Do filho que muito lhe ama,

 Ricardo Benevides Marques