Pesquisas relacionam polivitamínicos a risco de câncer de próstata.
O empresário Carlos Alberto Martins, 43, pratica atividades físicas diariamente, tem uma alimentação balanceada e faz check-up a cada seis meses. No último exame, queixou-se de um certo cansaço ao médico, que lhe receitou suplementos alimentares, incluindo algumas vitaminas.
A receita está funcionando, garante Martins. "Estou menos estressado. Minha vida é corrida, e meus treinos são puxados. O corpo sente a falta das vitaminas", acredita. O empresário não tem certeza se o que está tomando é ou não um polivitamínico (composto que inclui todas as vitaminas). "Faz bem para a saúde, previne doenças. Vou tomando e nem pergunto o que é", diz.
Na verdade, a suplementação receitada a Martins inclui apenas as vitaminas B e C. Melhor para ele. Os polivitamínicos, vistos com restrição por muitos médicos, agora são alvo de uma suspeita grave. Um braço de um grande estudo coordenado pelos NIH (institutos nacionais de saúde, na sigla em inglês), dos EUA, observou a relação entre o alto consumo desse tipo de suplemento e o aumento do risco de câncer de próstata.
Globalmente, o estudo dos NIH acompanha, há cinco anos, a dieta e a saúde de quase 300 mil homens. Entre outras descobertas, constatou-se que aqueles que consumiam polivitamínicos em excesso (mais de sete vezes por semana) tinham o dobro de chance de desenvolver câncer de próstata fatal do que os que nunca tomaram esses suplementos. Essas conclusões foram publicadas na última edição do jornal do NCI (instituto nacional do câncer, em inglês), dos Estados Unidos.
A questão é bastante controversa, segundo Valdemiro Carlos Sgarbieri, professor de ciências de alimentos e nutrição da faculdade de engenharia de alimentos da Unicamp (Universidade Estadual de Campinas). Mas Sgarbieri acredita que, ao fazer a suplementação quando não há necessidade, a pessoa "corre riscos, não apenas o de câncer de próstata". Entre os perigos, há o da intoxicação por excesso de algumas vitaminas.
"O problema é que excesso também é controverso, depende da fisiologia e do estado de saúde de cada indivíduo. Como dizia Paracelso [médico e físico do século 16], o que difere o veneno do remédio é a dosagem adequada."
Aristóteles Wisnescky, chefe do serviço de urologia do Hospital do Câncer do Inca (Instituto Nacional do Câncer) do Rio de Janeiro, conta que, embora algumas pesquisas tenham indicado uma ação preventiva das vitaminas C, D e E, outras apontaram que a vitamina A pode aumentar a incidência do câncer de próstata. Como o polivitamínico junta tudo no mesmo comprimido, "tomá-lo por conta própria não é o melhor caminho".
Para Wellington Oliveira, clínico-geral do Instituto Brasileiro de Medicina Estética e Vascular, cada candidato à suplementação deve ser avaliado, para saber quais doses e quais vitaminas são necessárias. Hábitos alimentares e de vida são alguns dos indicadores comumente usados para essa avaliação. Na dúvida, é possível fazer a dosagem de vitaminas por meio de exames de sangue.
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