Resistência mapeada.
Identificadas mutações que tornam bactéria Staphylococcus aureus imune a vários antibióticos.
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O paciente sofria de doença cardíaca congênita, com uma endocardite causada por Staphylococcus aureus resistentes à meticilina. Essas bactérias se tornaram comuns em todo o mundo desde os anos 1960 e estão entre as mais freqüentes causas de infecção hospitalar. O indivíduo foi tratado com a vancomicina – conhecida como “a droga do último recurso”, por ser um dos poucos compostos eficazes contra as bactérias resistentes – e outros antibióticos.
No entanto, as bactérias desenvolveram resistência parcial à vancomicina e o paciente faleceu após três meses. Ao menos as nove amostras de sangue retiradas entre o início e o final do tratamento permitiram que ele desse uma importante contribuição póstuma à ciência, registrada esta semana na edição eletrônica da revista PNAS .
Ao comparar o genoma das bactérias isoladas em cada amostra, a equipe de Alexander Tomasz, da Universidade Rockefeller, em Nova York, identificou 35 mutações surgidas durante o tratamento. “Acreditamos que o número de genes envolvidos no mecanismo de resistência possa ser ainda menor, da ordem de 10 ou 12”, disse Tomasz à CH On-line . “Muitas das mutações apareceram apenas na última amostra coletada, quando a resistência já estava plenamente estabelecida.”
O grupo identificou ainda como algumas das mutações identificadas afetam as proteínas sintetizadas pela bactéria. Algumas regulam a expressão de genes envolvidos em processos como a síntese da parede celular, alvo dos antibióticos. No total, a expressão de 224 genes foi afetada de forma significativa entre as amostras de bactérias recolhidas antes e após o tratamento.
Resistência múltipla
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O grupo comparou o conjunto de mutações identificadas com a seqüência genética de cepas resistentes de Staphylococcus aureus isoladas em diferentes localidades, como Japão, Portugal e diversos pontos dos Estados Unidos. Ao menos um grande conjunto de genes estava envolvido em todos os casos.
Uma das possibilidades abertas pelo estudo é a de se tentar induzir, em cepas de S. aureus suscetíveis à vancomicina, as mutações identificadas, para se confirmar seu papel específico no surgimento da resistência. “Seria possível ainda criar drogas que impedissem o caminho genético que identificamos, de forma que as bactérias se tornassem novamente suscetíveis à vancomicina”, acredita Mwangi.
A longo termo, o estudo aponta para uma nova etapa no tratamento de infecções bacterianas. “Levamos um ano e meio para seqüenciar as bactérias”, conta Mwangi. “Mas a tecnologia de seqüenciamento está avançando rapidamente. Quem sabe um dia os médicos consigam monitorar na escala do DNA como uma infecção está evoluindo em tempo real e possam adequar o tratamento em função disso.”