Núcleo do Sol gira mais rápido que o resto.

Diferença, no entanto, não é tão grande quanto a que as teorias estimavam.
Descoberta abre porta para aprofundamento da pesquisa solar.

Uma equipe internacional de cientistas conseguiu explorar o núcleo do Sol, e confirmou que gira mais rápido que o restante do astro, embora a diferença não seja tão grande como afirmavam as teorias de formação do sistema solar.

Foi o que o astrofísico espanhol Rafael García disse hoje, ao comentar a pesquisa comandada pelos professores Sebastián Jiménez-Reyes, Pere L. Pallé e Antonio Eff-Darwich, do Grupo de Sismologia Solar e Estelar do Instituto de Astrofísica das Canárias (IAC) e da Universidade de La Laguna.

Os resultados do trabalho -- publicado na última edição da revista "Science", e do qual participam também astrofísicos do Max Planck Institut für Astrophysik, Observatoire de la Côte d Azur e do Service d Astrophysique (Sap/Dapnia) -- revelam que o núcleo solar gira entre três e cinco vezes mais rápido que as outras partes do astro.

Segundo os estudiosos, o fato de o núcleo solar girar mais devagar que o esperado indicaria a existência de um mecanismo de contenção, que poderia consistir em um campo magnético fóssil, remanescente do colapso inicial da estrela. "Foi possível ver o núcleo do Sol, algo impossível até o momento", explicou Rafael García.

Os cientistas detectaram um sinal que corresponderia à marca dos modos gravitacionais do Sol, procurados desde a origem da sismologia solar, nos anos 70.

Para isso, foram analisados dados de quase 11 anos do instrumento Golf (Global Oscillations at Low Frequency), que viaja a bordo do satélite Soho (Solar and Heliospheric Observatory), da Agência Espacial Européia (ESA) e da Nasa.

García explicou que o estudo tornou possível ver, pela primeira vez, "a marca da existência das ondas gravitacionais, que abre uma porta incrível para o futuro das pesquisas da física solar".

Isso possibilitará análises sobre o que "realmente" acontece no núcleo solar, como se movimenta e como gira, o que é muito importante para as teorias de formação do sistema solar.

"Originalmente, pensava-se que a nuvem de gás que gerou o sistema solar girava muito rapidamente, e tinha que permanecer algum vestígio dessa rotação no núcleo solar", lembrou García.

A pesquisa mostra que o núcleo solar realmente gira mais rápido que o restante do astro, mas não é tão veloz como afirmavam as teorias de formação do sistema solar.
Existem dois tipos de modos de vibração: os modos de pressão (modos p) e os modos de gravidade (modos g).

Do ponto de vista sismológico, os modos "p" permitiram caracterizar quase 80% do Sol, partindo de sua superfície, o que equivale a quase 500 mil quilômetros. No entanto, poucos alcançam o núcleo, onde há um nível de barulho tão grande que é possível ter acesso a informações precisas.

Até o momento, conhecia-se a existência dos modos "g", pois saem da mesma fórmula matemática que os "p", pesquisados há trinta anos, encontrados agora e que permitiram ver o núcleo solar.