Um grito de socorro à Vida.
Com a devida vênia, estou transcrevendo este texto, recebido ontem de um amigo. É um apelo à vida; ao direito à vida, em níveis ainda não devidamente considerados pelo ser humano obcecado com suas prioridades econômicas e falsas prioridades gastronômicas. São palavras que nos alertam para um fato: o de que, em não nos cabendo os direitos autorais da Vida, não se justifica também, tampouco, a sua violação cruel com o desrespeito e a tortura dos seres irracionais, em cujas veias corre o fluxo vital e cuja carne se convulsiona em espasmos de dor, tanto quanto a nossa, frente a qualquer agressão natural ou infligida.O apelo é dirigido a todos nós. Cabe a cada um decidir o que fazer dele, em termos de foro íntimo; no entanto, seria conveniente a conscientização urgente de que a Vida cobra o que lhe é usurpado na base da violência. E que não é coincidência o que já observamos globalmente, em termos dos efeitos indiciadores de que, sem dúvidas, a Mãe Terra vem buscando resgatar seu equilíbrio, lançando mão de recursos freqüentemente assustadores aos responsáveis pelas agressões seculares de que vem sendo vítima.
Segue, portanto, o texto digno de profunda reflexão.
"Os Chineses costumam encarar qualquer coisa que se mova como um alimento à sua disposição. Eles consideram o animal um mecanismo, um objeto, cuja dor e sofrimento não nos dizem respeito.
Ironicamente, os piores exemplos de maus tratos acontecem na mesma Ásia onde nasceu o budismo - a mais benevolente e avançada religião do mundo no trato com os animais. Nos tristemente famosos "mercados de vida selvagem" asiáticos há de tudo. Mamíferos, répteis, insetos, batráquios, tudo vai para gaiolas apertadas e lotadas, sem água nem comida. Qualquer foto desses mercados é um permanente festival de sangue, urina e fezes. Há mais do que cheiro ruim no ar: existe medo. E vírus de diferentes espécies novas se combinando uns com os outros. Não é por acaso que foi lá que surgiu a "gripe das aves"...
As imagens mais chocantes registram o que esses mercados destinam aos cães. Os mesmos cães que aqui viram membros da família, ajudam cegos ou orientam equipes de salvamento. Lá, cachorros são comida. E não se deixe enganar: esses mercados chineses não existem para "matar a fome do povo". Chineses pobres comem frango e peixe. Os cães são "iguarias" caras, assim como gatos, escorpiões, cobras, enguias, etc. Eu tive a chance de ver fotos e vídeos desses mercados.
Os cozinheiros acreditam que a adrenalina no sangue dos cães amacia a carne. Quanto mais sofrimento, mais apetitoso o prato. Em nome dessa carne macia, a palavra de ordem é torturar os cães até a morte. Eu já via foto de um pastor alemão sendo enforcado na viga de uma cozinha, sendo puxado pelos pés. Eu já testemunhei um vira-latas com as patas dianteiras amarradas para trás do corpo e desisti de imaginar o tamanho de sua dor. Assisti ao vídeo de um cão magrinho que foi mergulhado em água fervendo; retirado, teve sua pele inteirinha arrancada e ainda olhava a câmera, tremendo junto à panela onde foi cozido em vida.
A pergunta básica é: nós, humanos, temos direito a isso? Quem nos deu esse direito? Temos o direito de jogar uma lagosta viva na água fervente? Temos o direito de comer um peixe fatiado ainda vivo no seu prato num restaurante japonês? Temos o direito de prender bezerros em lugares escuros, imobilizados por toda sua curta vida, por um vitelo? Nosso paladar é tão importante assim na ordem das coisas? Um sabor diferente em nossas bocas justifica tudo?
A questão ultrapassa a esfera da ética e da civilidade. A Sars nasce no chão imundo dos mercados chineses. A doença da vaca louca - permanente ameaça na nossa pátria do churrasco - surgiu quando obrigamos o gado a se canibalizar. O terrível ebola se espalha com cada homem africano que devora gorilas e chimpanzés. Vírus mutantes saltam do sangue de aves para o dos homens sem defesas naturais. Segundo a revista inglesa The Economist, nada menos que 60% das doenças humanas surgidas nos últimos 20 anos têm origem em outras espécies animais.
Tony McMichael, pesquisador da Universidade Nacional de Austrália, é bastante claro: "Vivemos num mundo de micróbios. Precisamos ser um pouco mais espertos no jeito como manejamos o mundo ao nosso redor."
Mercados chineses e churrascos africanos parecem fenômenos distantes. Mas o brasileiro continua dependendo demais de alimentação animal. Temos uma churrascaria por quarteirão e, numa cidade de 12 milhões de habitantes como São Paulo, contam-se nos dedos os restaurantes vegetarianos. E ainda temos um lobby querendo ampliar a oferta de animais nas geladeiras: avestruzes, capivaras, jacarés, tudo criado em cativeiro com carimbo do Ibama.
A cada nova espécie consumida pelo homem, mais uma mistura de vírus; algumas combinações inofensivas, outras não. Para tentar controlar essas doenças cometemos mais brutalidade: enterramos milhões de aves vivas, afogamos gatos selvagens em piscinas de desinfetante. Provocamos o desastre e massacramos as vítimas.
Temos um caminho inteligente: racionalizar, humanizar e diminuir cada vez mais o consumo de animais. Ou podemos continuar o banho de sangue. Aí, todos nós pagaremos o preço. Quando uma borboleta bate as asas na Europa pode iniciar um furacão no oceano Pacífico.
A Sars começou em mercados chineses e chegou ao Canadá. A gripe aviária já se espalhou por diversos países asiáticos e ameaçam lugares distantes como o Paquistão e a Itália. Num mundo de vôos diretos, os gritos desesperados de um cachorro chinês podem chegar um dia ao Brasil por meio de alguma nova e tenebrosa sigla."
Com amor,
Lucilla