Experimento com pêndulo confirma Segunda Lei de Newton

Teste descarta uma falha da lei que relaciona força a aceleração como causa provável das anomalias encontradas na trajetória de duas sondas espaciais.

Carlos Orsi

HST/NASA
Imagem feita pelo Telescópio Espacial Hubble, com indicação do local provável de concentração de matéria escura (azul) no aglomerado de galáxias 1E 0657-556

SÃO PAULO - Quando Albert Einstein propôs sua Teoria da Relatividade Geral, no início do século passado, um dos resultados foi a superação da Lei da Gravidade de Isaac Newton, que reinava há quase 300 anos. Embora o modo newtoniano de tratar a gravidade ainda funcione bem - o suficiente, ao menos, para estudantes do ensino médio usarem em suas provas e para cientistas interessados em enviar astronautas em segurança para a Lua - um tratamento realmente preciso da gravidade requer que as alterações propostas por Einstein sejam levadas em conta.

Mais recentemente, outra lei de Newton, a chamada Segunda Lei - conhecida pela relação F=m.a, ou força igual à massa multiplicada pela aceleração - foi posta em questão por cientistas que propuseram a hipótese conhecida como Dinâmica Newtoniana Modificada ("Mond", na sigla em inglês). A Mond não surgiu no vácuo, mas em resposta a desafios propostos por observações astronômicas, que sugerem que algumas estrelas giram rápido demais ao redor do núcleo de suas galáxias. Tão rápido, na verdade, que de acordo com a lei de Newton deveriam escapar e sair voando livremente pelo espaço.

Além disso, a Nasa vem detectando uma nova aceleração, até o momento inexplicável, que afeta as sondas Pioneer 10 e 11, lançadas nos anos 70, e que se encontram rumando para o espaço interestelar. Essa aceleração, conhecida como "anomalia Pioneer", também poderia ser sinal de que a Segunda Lei precisa de correção.

Agora, no entanto, o serviço de notícias científicas online ScienceNOW, da revista Science, informa que dois físicos da Universidade de Washington, Jens Gundlach e Stephan Schlamminger, realizaram testes de alta precisão com um pêndulo de torção - uma pequena massa que, em vez de balançar, gira na ponta de um fio de tungstênio de um metro de comprimento e 20 micrômetros, ou milésimos de milímetro, de espessura - que confirmam a Segunda Lei para acelerações de até 0,00005 bilionésimos de metro por segundo por segundo.

Um artigo com a descrição completa do trabalho será publicado na revista especializada Physical Review Letters.

Ouvido pelo ScienceNOW, Gundlach reconhece que seu resultado não elimina de vez a possibilidade de a hipótese Mond estar certa, mas diz que o experimento prova que a anomalia Pioneer não pode ser explicada por uma simples violação da Segunda Lei.

No caso das estrelas que deveriam escapar de suas galáxias, a hipótese mais aceita para explicar o que as mantêm no lugar é a da presença de matéria escura - um material que exerce força gravitacional, mas que é invisível, ou quase invisível, em todas as faixas do espectro eletromagnético.