Terra está em estado terminal, diz pai da Teoria de Gaia.
James Lovelock diz que os governos deveriam se preocupar em receber os refugiados da mudança climática, e adotar a energia nuclear.
Efe
MADRI - O aquecimento global faz com que a Terra encontre-se em "estado terminal", e combater essa situação com energias renováveis é como tratar um doente grave com "medicina alternativa", disse, em entrevista à agência Efe, o cientista britânico James Lovelock, pai da Teoria de Gaia.
Na entrevista, concedida antes da apresentação, em Madri, de seu livro A vingança da Terra, Lovelock admitiu que a obra não diz nada que não conste do recente relatório do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC), mas traduz a linguagem científica para o público em geral, e "fala de suas possíveis conseqüências para a humanidade".
A Teoria de Gaia, que o cientista apresentou no começo dos anos 70, argumenta que a Terra se comporta como um grande organismo vivo capaz de se regular e reagir às mudanças.
Fazendo uma analogia com a saúde do ser humano, Lovelock, de 87 anos, alertou que nosso planeta encontra-se em "estado terminal", similar ao de uma pessoa que sofra de doença no coração ou nos rins.
Em 2040, afirmou, serão normais os verões como o que castigou a Europa há quatro anos, deixando cerca de 15.000 mortos na França.
O calor "poderia ser combatido com aparelhos de ar condicionado", pois seria similar, por exemplo, ao de Bagdá, mas uma alta tão drástica das temperaturas impediria a sobrevivência dos cultivos no sul da Europa e provocaria migrações rumo aos países mais frios.
Portanto, Lovelock considera que os governos deveriam concentrar seus esforços na adaptação à mudança, construindo casas adequadas, hospitais e infra-estrutura para os deslocados, "em vez de perder o tempo lutando contra a mudança climática com as energias renováveis".
"Não é que eu queira atirar pedras contra (o Protocolo de) Kyoto, mas a situação é mais urgente do que quando ele foi planejado, há dez anos", afirmou.
Defensor da energia nuclear, o cientista considera que esta é "a única fonte de energia bem conhecida, em escala planetária, e quase sem efeitos negativos".
"Enquanto 40 anos de resíduos de uma usina nuclear podem ser armazenados em um pequeno edifício, o CO2 (dióxido de carbono) emitido anualmente pela queima de combustíveis fósseis formaria, em estado sólido, uma montanha de 1.600 metros de altura e 20 quilômetros de área", acrescentou.