Astrônomos detectam estrela de nêutrons superveloz.

Se confirmada, a taxa de rotação acima das previsões teóricas poderá permirtir que cientistas determinem com mais precisão a estrutura desses astros.

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Ilustração mostra estrela de nêutrons assimilando material de vizinha

PARIS - Com os instrumentos do observatório de raios-X Integral, da Agência Espacial Européia (ESA), pesquisadores descobriram o que parece ser a estrela de nêutrons mais veloz já encontrada. O astro pode estar girando 1.122 vezes por segundo, quase o dobro da taxa máxima de rotação prevista para esse tipo de corpo celeste. Se confirmada, a descoberta oferecerá a astrônomos a possibilidade de estudar o interior de um estrela morta.

Estrelas de nêutrons são o que resta depois da destruição de certas estrelas. Com cerca de 10 km de diâmetro, mas contendo uma massa comparável à do Sol, o interior de uma estrela de nêutrons é um dos locais mais exóticos da natureza. Acredita-se que uma colher de chá do material contido nesses astros pesa centenas de milhões de toneladas.

Quando uma estrela de nêutrons orbita outra estrela, é possível que sua gravidade intensa atraia parte da atmosfera da vizinha. Essa atmosfera se acumula ao redor da estrela de nêutrons e, quando a camada atinge uma espessura de 5 a 10 metros, o gás explode uma reação de fusão nuclear. A liberação de energia pode durar vários minutos, e produz uma explosão de raios-X.

Cientistas sabem que os raios-X emitidos nessas circunstâncias apresentam oscilações que correspondem à taxa de rotação da estrela de nêutrons. A estrela superveloz - XTE J1739-285 - começou a ser analisada por meio dessas explosões, e foi a partir daí que os pesquisadores deduziram sua velocidade de rotação espantosa.

Segundo o astrônomo Erik Kuulkers, da ESA, o resultado foi "uma tremenda surpresa", e vários testes foram realizados até que os pesquisadores aceitassem como real a taxa de 1.122 rotações por segundo, ou 1.122 Hertz.

As estrelas de nêutrons mais rápidas encontradas anteriormente giravam entre 270 e 619 Hertz. A teoria previa que a velocidade máxima para uma estrela de nêutrons deveria ser de 760 Hertz. Se a descoberta sobre XTE J1739-285, se confirmar, o limite cai por terra.

Isso não significa que uma estrela dessas pode girar coma velocidade que quiser: se a rotação for rápida demais, o astro acabará se desintegrando. A velocidade exata de autodestruição depende das condições internas da estrela.

"Nossa detecção provável de 1.122 Hertz impõe restrições sérias nos modelos" que descrevem como uma estrela de nêutrons pode ser, explica Kuulkers. "Se pudermos encontrar mais estrelas nessa taxa de rotação, isso nos permitirá eliminar alguns modelos da estrutura interior" desse tipo de astro.