Efeito estufa pré-histórico salvou a Terra do congelamento.


O novo trabalho ajuda a explicar como a Terra escapou de virar um bloco de gelo há bilhões de anos, quando, estimam astrônomos, o Sol era 25% mais fraco.


Uma das rochas extraídas da formação em Québec

WASHINGTON - Dióxido de carbono, um gás do efeito estufa que se tornou uma das principais ameaças à civilização, pode ter salvado a Terra de congelar no início de sua história, de acordo com a primeira análise laboratorial detalhada das rochas sedimentares mais antigas já encontradas.

Cientistas vinham teorizando, há anos, que altas concentrações de gases do efeito estufa poderiam ter ajudado a Terra a escapar de um congelamento global, ao permitir que a atmosfera retivesse mais calor do que era perdido para o espaço. Agora, uma equipe da Universidade de Chicago e da Universidade do Colorado em Boulder encontraram evidências e apoio a essa idéia, ao analisar rochas da Baía de Hudson, no norte de Québec, no Canadá.

O estudo mostra que o dióxido de carbono na atmosfera terrestre pode ter sustentado temperaturas acima do ponto de congelamento da água há mais de 3,75 bilhões de anos.

O novo trabalho ajuda a explicar como a Terra evitou se converter num bloco de gelo numa época em que, estimam os astrônomos, o Sol era 25% mais fraco do que hoje.

As rochas estudadas contêm carbonatos de ferro que, acredita-se, precipitaram-se nos oceanos antigos. Já que os carbonatos de ferro só poderiam ter surgido numa atmosfera contendo muito mais CO2 que a atmosfera terrestre atual, os pesquisadores concluíram que o ambiente terrestre primitivo era extremamente rico nesse gás.

A pesquisa também sugere um mecanismo de termostato natural: conforme o planeta esfria, o desgaste das rochas pelo clima diminui, e o gás carbônico - que poderia ser aprisionado em carbonatos gerados a partir desse desgaste - se acumula na atmosfera, o que, ao longo do tempo, induz a um reaquecimento.

Já quando a temperatura atinge um nível máximo, o desgaste das rochas retorna e o excesso de CO2 se fixa nos carbonatos, que acabam arrastados para o fundo do mar pelos rios.

O trabalho aparece na edição de 2 de fevereiro do periódico Earth and Planetary Science Letters.