artigos • 27Jan '2007
Pai estressado pode prejudicar bebê durante a gravidez
O parceiro possui um papel importante a desempenhar quando se trata de saber como a criança evoluirá durante a gravidez, disse a autora do estudo
Patricia Reaney, Reuters
LONDRES - O marido de uma mulher grávida tem um papel mais importante no estágio inicial do desenvolvimento da criança do que se imagina. Sua influência começa a partir do momento da concepção.
Longe de ser apenas um espectador durante a gravidez, o pai, em sua relação com a parceira e em qualquer estresse decorrente dessa relação, pode ter influência sobre o desenvolvimento mental do feto.
"O parceiro possui um papel importante a desempenhar quando se trata de saber como a criança evoluirá durante a gravidez", disse Vivette Glover, do Imperial College London.
"Descobrimos que isso (o estresse) afeta tanto o desenvolvimento mental quanto o desenvolvimento emocional do bebê", afirmou a pesquisadora à Reuters.
Glover, uma especialista no desenvolvimento fetal que apresentou o resultado de seu estudo em um encontro do Royal College of Psychiatrists, em Londres, avaliou o impacto do estresse materno durante a gravidez.
A forma como uma criança se desenvolverá depende de seus genes e da educação, mas Glover descobriu que o período de desenvolvimento ainda dentro do útero também é um elemento importante.
Ela entrevistou 123 mulheres e avaliou o desenvolvimento dos filhos delas aos 18 meses de idade.
"Foram identificados dois tipos de estresse. Um é o estresse resultante da ansiedade e de um histórico de transtornos mentais. Mas o outro é o estresse decorrente da relação com o parceiro", afirmou.
Pesquisas anteriores já mostraram que uma criança pode estar mais propensa a desenvolver problemas comportamentais, ansiedade e distúrbios cognitivos e emocionais se a mãe passar por períodos de estresse quando estiver grávida.
Estudos com animais também descobriram que o estresse materno pode provocar alterações de longo prazo no desenvolvimento neurológico de suas crias.
Quando Glover realizou testes a respeito do desenvolvimento mental das crianças, ela descobriu diferenças entre os bebês cujas mães relataram ter ficado estressadas e as mães que não deram declarações do tipo.
"O desenvolvimento mental deles era um pouco mais lento e eles apresentaram sinais de medo e ansiedade", afirmou.
Apesar de não se saber exatamente como o estresse materno afeta o bebê em formação, acredita-se que haja uma ligação entre os níveis anormalmente altos, no sangue da mãe, do hormônio cortisol, que indica estresse, e o líquido amniótico.
Pesquisas recentes descobriram haver uma ligação entre os níveis de cortisol no líquido amniótico e a taxa de desenvolvimento mental das crianças. Quanto mais alto o nível de cortisol, menor o índice de desenvolvimento mental.
Glover ressaltou que nem todos os bebês tinham sido afetados pelo estresse materno. Mas aconselhou as mulheres grávidas que se sentem estressadas a procurar um médico, a conversar com alguém sobre o problema ou a tentar relaxar.
"Não sabemos exatamente o que pode funcionar. Mas é muito provável que essas coisas ajudem", disse.
"A maior parte das crianças acaba saindo-se bem. O estresse apenas aumenta os riscos, e os efeitos dele dependem, em primeiro lugar, de uma vulnerabilidade genética. Algumas crianças podem ter mais propensão para serem ansiosas", acrescentou.