O aquecimento global já está aqui, dirá relatório internacional.
Segundo um cientista canadense que participa do IPCC, a evidência acumulada do aquecimento global equivale a um batalhão de mísseis intergalácticos fumegantes.
AP
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WASHINGTON - O aquecimento global provocado por atividade humana está aqui - visível no ar, na água, nas geleiras que desaparecem - e ficará muito pior no futuro, dirá um importante relatório científico, que deve ser divulgado na próxima semana. "A arma fumegante (expressão que em inglês representa uma prova incontestável) está sobre a mesa no momento em que falamos", afirmou o importante especialista americano Jerry Mahlman, que revisou as 1.600 páginas da primeira etapa do gigantesco relatório de quatro partes. "A evidência... é conclusiva".
Um dos autores do estudo, o canadense Andrew Weaver, vai ainda mais longe: "Isto não é uma arma fumegante. O clima é um batalhão de mísseis intergalácticos fumegantes".
A primeira fase do relatório do Painel Intergovernamental sobre Mudança Climática (IPCC) será lançado na próxima semana, em Paris. Este segmento, redigido por mais de 600 cientistas, revisado por outros 600 e editado por burocratas de 154 países, inclui "uma discussão significativamente expandida da observação do clima", disse uma das responsáveis pela organização do trabalho, Susan Solomon, da Administração Nacional de Oceano e Atmosfera (NOAA) dos EUA.
Ela e outros cientistas realizaram uma conferência telefônica sobre o texto, na segunda-feira, 22.
O relatório trará "uma explosão de novos dados" sobre as observações do aquecimento global atual, disse Solomon. Ela e os demais cientistas não entraram em detalhes o quê, exatamente, o relatório diz. Eles afirmam que um resumo de 12 páginas, contendo sugestões para os formuladores de políticas públicas, será editado em segredo por representantes de diversos governos, e divulgado para o público em 2 de fevereiro. O restante do primeiro relatório, com o conteúdo científico propriamente dito, sairá meses mais tarde.
O relatório completo será apresentado em quatro etapas ao longo do ano, como ocorreu com o primeiro trabalho do IPCC, divulgado em 2001.
Em novembro, o chefe do IPCC, Rajendra K. Pachauri, havia dito que o texto de fevereiro terá "evidências muito mais fortes de ação humana na mudança climática que vem ocorrendo". Um rascunho prévio do texto afirmava que "um corpo de evidência cada vez maior sugere uma influência humana perceptível em outros aspectos do clima, como gelo marítimo, ondas de calor e outros eventos extremos, circulação, tempestades e precipitação".
A temperatura média global subiu cerca de 0,7º C entre 1901 e 2005. Os dois anos mais quentes já registrados foram 1998 e 2005.
Alguns estudos científicos recentes mostram que as temperaturas atuais são as mais altas em milhares de anos, especialmente nas últimas três décadas. Capas de gelo na Groenlândia vêm exibindo um derretimento acelerado nos últimos anos. E o nível dos oceanos se eleva.
Além disso, a segunda parte do relatório do IPCC, a ser divulga em abril, trará um capítulo sobre como o aquecimento global já afeta a saúde, a ecologia, a engenharia e a produção de alimentos, diz a cientista Cynthia Rosenzweig, da Nasa.