Cientistas descobrem novo jeito de uma estrela morrer.


Novo tipo de explosão pode significar que algumas estrelas se convertem em buracos negros sem, antes, liberar seus elementos pesados no espaço.

Divulgação
Imagem do Hubble mostra a galáxia onde ocorreu a explosão

WASHINGTON - Astrônomos encontraram o que parece ser um novo tipo de explosão cósmica - uma "explosão híbrida de raios gama" - que será tema de quatro artigos da edição desta semana da revista científica Nature. Os pesquisadores acreditam que, como as outras explosões de raios gama, essas "híbridas" representam o nascimento de um buraco negro - mas por um novo processo, até agora inédito, e a partir de uma origem ainda desconhecida.

O nascimento "normal" de um buraco negro ocorre quando uma estrela, depois de explodir e expelir suas camadas exteriores, num evento conhecido como supernova, sucumbe à própria gravidade e se reduz a um ponto de densidade extrema.

No caso das explosões híbridas - chamadas assim por unir características de duas modalidades de explosão mais comuns - não está claro que tipo de estrela se encontra na origem do processo, se se trata de uma estrela apenas, de uma fusão de objetos ou de algum fenômeno ainda mais estranho.

A explosão híbrida foi detectada pelo satélite Swift da Nasa, em 14 de junho deste ano.

"Esta explosão, diferentemente de todas as outras que já vimos de perto, não foi acompanhada por uma supernova, por razões que ainda não compreendemos", disse o astrônomo Derek Fox, autor de um dos artigos publicados pela Nature.

A nova explosão combina características das chamadas explosões de raios gama "longas" e das "curtas".

Uma explosão longa dura mais de dois segundos e parece vir do colapso de uma grande estrela, dando origem a um buraco negro. A maioria desses pulsos vem dos limites do Universo observável. As explosões curtas, que muitas vezes duram apenas milissegundos, parecem resultar da fusão de duas estrelas de nêutrons ou de uma estrela de nêutrons e um buraco negro, o que gera um buraco maior ainda.

"Temos muitos dados sobre essa explosão (híbrida) e dedicamos muita observação a ela, mas não somos capazes de dizer o que explodiu" neste caso, diz o principal autor de outro dos artigos publicados na Nature, Neil Gehrels, do Centro de Vôo Espacial Goddard, da Nasa. "Tudo parece indicar um novo tipo, talvez não realmente incomum, de explosão cósmica". O híbrido foi batizado GRB 060614.

"Essa explosão foi próxima o suficiente para detectarmos a supernova, se houvesse uma", afirma o principal autor de outro dos artigos da Nature, Avishay Gal-Yam, do Instituto de tecnologia da Califórnia.

Acredita-se que supernovas sejam o principal método pelo qual o espaço é enriquecido com elementos mais pesados que o hidrogênio, como o ferro, o oxigênio e o carbono, e que depois tomam parte na formação de planetas, asteróides e vida. Esses átomos pesados são criados no interior das estrelas, e liberados no vácuo com a explosão da supernova. Outros elementos, ainda mais pesados, são gerados pela energia da própria supernova.

Se a explosão híbrida de raios gama realmente veio de uma estrela que se transformou em buraco negro sem gerar uma supernova, os elementos produzidos por ela jamais chegaram ao espaço, e se perderam para o Universo.

A despeito das dúvidas que persistem, a maioria dos cientistas envolvidos no estudo de GRB 060614 concordam que algum tipo novo de processo deve estar em operação: ou a teoria sobre fusões de estrelas precisa ser reformada, ou a estrela que deu origem aos raios gama é diferente, de algum modo fundamental, do tipo de estrela que gera supernovas.