Bactéria Conan reacende debate sobre vida em Marte.
Equipe liderada pelo cientista Alexander Pavlov afirma que a bactéria super-resistente Deinococcus radiodurans só pode ter se originado fora da Terra.
LONDRES - Cientistas russos e americanos voltaram a defender, em um artigo divulgado na revista científica Astrobiology, uma teoria de que bactérias vindas de outros planetas, como Marte, pegaram carona em meteoritos e vieram parar na Terra.
Algumas bactérias existentes na Terra hoje têm a habilidade de tolerar a exposição a níveis de radiação extremamente altos, que matariam outros organismos.
O mais estudado micróbio resistente à radiação é o Deinococcus radiodurans. Ele pode tolerar doses de radiação milhares de vezes maiores do que a dose letal para seres humanos e foi apelidado de "Conan, a bactéria" pelos cientistas.
A equipe de cientistas da University of Arizona, nos Estados Unidos, argumenta que essas bactérias só poderiam ter desenvolvido essa habilidade incomum em um planeta como Marte.
Descobertas recentes de água no permafrost (região de solo permanentemente congelado) de Marte e sinais de água abaixo da superfície em regiões de latitude média do planeta fizeram aumentar a esperança de que o planeta detenha as condições certas para que haja vida, sustentando essa teoria.
O permafrost de Marte, onde os índices de radiação são cem vezes maiores do que os da Terra, oferece um ambiente plausível para que as bactérias adquiram genes resistentes à radiação.
Mas alguns especialistas dizem que a tolerância à radioatividade é um efeito colateral do mecanismo de defesa que bactérias como a D. radiodurans desenvolveram para se proteger contra a desidratação em ambientes áridos.
A equipe liderada pelo cientista Alexander Pavlov rejeita esta explicação alternativa.
"Nossa hipótese de uma origem marciana para bactérias resistentes à radiação oferece uma explicação para sua habilidade de tolerar radiação ionizante, um traço que parece não ter valor na Terra", dizem os pesquisadores no artigo na Astrobiology.
Pavlov e seus colegas argumentam que não há evidência de que o grau de resistência à radiação esteja relacionado ao grau de resistência à desidratação em bactérias.
Além disso, dizem os cientistas, colônias de bactérias expostas a ciclos sucessivos de desidratação e hidratação no laboratório desenvolvem resistência ao ressecamento, como esperado, mas não ficam resistentes à radiação.
Cientistas contrários à teoria de Pavlov e seu grupo também argumentam que o genoma da bactéria D. radiodurans é muito similar ao de bactérias terrestres comuns, portanto, ela não poderia vir de outro planeta.
Já Pavlov diz que o possível freqüente intercâmbio de bactérias trazidas por meteoritos de Marte à Terra poderia explicar a semelhança.