Estudo questiona presença de água em lua da Saturno.
O gêiser de Encélado pode ser explicado sem recorrer a reservatórios de água.
AP
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SAN FRANCISCO, EUA - Uma nova pesquisa levanta dúvidas sobre a existência de água perto da superfície de uma pequena lua de Saturno. A descoberta, se confirmada, poderia ser um revés para a busca por vida extraterrestre.
Meses atrás, a sonda Cassini causou sensação ao identificar o que apreciam ser gêiseres irrompendo a partir do pólo sul de Encélado. Cientistas especularam que as erupções eram impulsionadas por reservatórios de água localizados imediatamente abaixo da superfície gelada.
Uma explicação alternativa, porém, aparece na edição desta semana da revista científica Science: clatratos contendo gelo, não água, estariam liberando as plumas de material rumo ao céu, por meio de súbitas mudanças tectônicas na crosta, que provocariam rachaduras na superfície. Clatratos são estruturas em que um material se insere na rede formada pelas moléculas de outro.
O estudo não avalia a possibilidade de haver água em outras partes da lua, diz a principal autora do trabalho, Susan Kieffer, que já estudou gêiseres da Terra e analisou dados sobre estruturas semelhantes nas luas de Júpiter e Netuno.
"Não entramos nessa para tentar desprovar a água líquida", disse Kieffer, acrescentando que, em seu modelo, "a água líquida não é necessária".
A nova teoria mostra que os cientistas realmente ainda não sabem o que causa as erupções em Encélado, e até que a questão esteja resolvida, é prematura mandar uma sonda até lá em busca de vida, diz o astrobiólogo Bruce Jakosky. Ele lembra que, se não há água líquida disponível, a perspectiva de vida não é boa.
A Cassini determinou que o gêiseres são uma mistura de vapor d´água e partículas de gelo contendo grandes quantidades de dióxido de carbono e traços de metano. Kieffer lembra que o metano não se dissolve totalmente em água líquida, mas pode existir em clatratos de gelo.
A cientista que propôs a teoria da presença de água em Encélado, Carolyn Porco, reconhece que o novo modelo soa plausível, mas não exclui a possibilidade de haver água mais embaixo.
Ela também não acredita que o estudo deva deter uma missão para buscar vida microbiana no ambiente de Encélado. "Há razão para acreditar que exista calor suficiente (na lua) para sustentar água líquida", disse a pesquisadora.
Encédalo, com apenas 485 km de diâmetro, era virtualmente desconhecida até que a Cassini fotografasse jatos borbulhando a partir de uma zona aquecida, no pólo Sul. A descoberta jogou o pequeno astro no exclusivo clube dos corpos do Sistema Solar que podem abrigar ou já ter abrigado vida, ao lado de Marte e das luas geladas de Júpiter.