China descobre mamífero voador mais antigo.


Uma criatura parecida com um esquilo, que viveu há mais de 125 milhões de anos, pode ter descoberto o vôo ao mesmo tempo que as aves, ou antes mesmo delas, afirmam pesquisadores chineses.

Chuang Zhao e Lida Xing/Nature
Ilustração mostra exemplar de Volaticotherium antiquus planando; animal vivia em árvores
Ilustração mostra exemplar de Volaticotherium antiquus planando; animal vivia em árvores
O pequeno mamífero aparentemente se extinguiu sem deixar descendentes. Mas seus restos fossilizados, preservados em rocha, mostram que ele era capaz de planar entre as árvores, assim como esquilos e lêmures voadores modernos.

Os paleontólogos, liderados por Jin Meng, do Instituto de Paleontologia de Vertebrados da China, encontraram uma laje contendo um esqueleto totalmente esmigalhado do animal em um sítio da Mongólia Interior, na China.
O fóssil traz a impressão clara de uma membrana grande e coberta de pêlos, chamada patágio, que se estendia entre os membros anteriores e posteriores do animal. Essa membrana era usada como um aerofólio em vôos planados.

Os cientistas batizaram o animal de Volaticotherium antiquus. Eles descrevem seu achado na edição de hoje do periódico "Nature". O bicho é tão incomum e especializado que não tem parentes vivos conhecidos. Possuía dentes adaptados para uma dieta à base de insetos e uma cauda rígida, provavelmente usada para controlar a direção de seus vôos.

"O patágio é fantástico", disse à Folha o paleontólogo Reinaldo José Bertini, da Unesp de Rio Claro (ele usa, na verdade, um termo mais exaltado para se referir à membrana, cuja impressão está preservada). "E as características para planar, a vida arborícola e a análise do estilo de vida também estão bastante razoáveis", afirma o pesquisador, que diz ver no estudo uma "grande contribuição" à paleontologia.

Convergência

O vôo planado evoluiu muitas vezes de forma independente nos vertebrados, mas aves e morcegos são hoje os únicos entre aqueles capazes de voar que usam asas verdadeiras, controladas por músculos.

O Volaticotherium antiquus ("animal voador antigo", em grego latinizado) viveu na época em que os dinossauros eram o grupo terrestre dominante. Embora haja controvérsia sobre a idade das rochas da formação Daohugou, onde ele foi encontrado, os cientistas acham que ele tenha vivido no Período Jurássico, o segundo da Era Mesozóica (ou era dos dinossauros). Nesse mesmo período, a primeira ave verdadeira, o Archaeopteryx, voava pelos céus da Europa. Os primeiros morcegos só surgiriam há 51 milhões de anos.

Voe para fugir
O Volaticotherium antiquus pesava cerca de 400 g e provavelmente apanhava insetos ao subir em árvores. Ele provavelmente não tinha um vôo ágil o bastante para capturar suas presas no ar e quase certamente planava de árvore em árvore para estender seu território ou escapar de predadores, afirmaram os cientistas.

"Esta descoberta recua os registros mais antigos de vôo planado entre mamíferos em pelo menos 70 milhões de anos", escreveram os autores do estudo. "Eles haviam experimentado os hábitos aéreos por volta da mesma época que as aves se lançaram à exploração dos céus, ou antes disso."

Jin, que também é curador associado do Museu Americano de História Natural, em Nova York, disse que o mamífero voador tinha membros alongados, que o ajudavam a manter a sustentação aerodinâmica, e ossos dos dedos adaptados para subir em árvores.

"Esta nova evidência de vôo planado em mamíferos primitivos nos dá um quadro dramaticamente novo de muitos dos animais que viveram na época dos dinossauros", disse Jin.

Ele diz que a descoberta é uma das mais importantes no estudo de mamíferos antigos em um século, já que se descobriu uma nova ordem de mamíferos. "[Isso] provavelmente ocorre uma vez na vida de um paleomastólogo [estudioso de mamíferos extintos] sortudo."