Aquecimento global pode degelar o Oceano Ártico até 2040.
Diferentes taxas de emissão de gases do efeito estufa podem levar a diferentes cenários; segundo a autora da pesquisa, ainda hé tempo de mudar a tendência.
BOULDER, EUA - A recente retração das geleiras do Ártico provavelmente acelerará, tornando o Oceano Ártico livre de gelo durante o verão, talvez já em 2040, de acordo com nova pesquisa, publicada na edição desta terça-feira, 12, do periódico Geophysical Research Letters.
O estudo, realizado por uma equipe de cientistas do Centro Nacional de Pesquisa Atmosférica (NCAR, na sigla em inglês) da Universidade de Washington, e da McGill University, analisa o impacto das emissões de gases causadores do efeito estufa no Ártico. Cenários traçados em supercomputadores mostram que a extensão de gelo sobre o mar, em setembro, poderá cair de forma tão abrupta que, dentro de 20 anos, a retração atingirá um ritmo quatro vezes maior que a maior taxa já observada.
"Já testemunhamos grandes perdas em gelo marítimo, mas nossa pesquisa sugere que o decréscimo, ao longo das próximas poucas décadas, será muito mais dramático que qualquer coisa que já tenha ocorrido", diz uma das cientistas do NCAR, Marika Holland, principal autora do trabalho.
O gelo sobre o Oceano Ártico já se retraiu nos últimos anos, principalmente em períodos de final de verão, quando a espessura do gelo atinge um nível mínimo. Para analisar como o aquecimento global afetará o gelo nas próximas décadas, a equipe estudos sete simulações executadas pelo Community Climate System Model, do NCAR.
Os cientistas primeiro avaliaram a confiabilidade do modelo simulando flutuações na área coberta de gelo desde 1870, incluindo o significativo encolhimento registrado no final dos verões entre 1979 e 2005.
As simulações se aproximaram bastante dos dados observados, sinal, segundo os cientistas, de que o modelo é capaz de capturar as flutuações do clima no Ártico.
na simulação da perda de gelo no futuro, os resultados do modelo indicam que, se os gases do efeito estufa continuarem a se acumular na atmosfera na taxa presente, a cobertura glacial da região oscilará entre períodos de estabilidade e de abrupta retração. Em uma das simulações, o gelo em setembro cai de seis milhões de quilômetros quadrados para dois milhões, num intervalo de dez anos.
Por volta de 2040, apenas uma pequena parcela do gelo perene permanece ao longo das costas da Groenlândia e do Canadá, e a maior parte da bacia do ártico se mantém livre de gelo em setembro. O gelo de inverno perde espessura, indo de quatro metros para menos de um metro.
A pesquisa indica que diferentes taxas de emissão de gases do efeito estufa podem levar a diferentes cenários de perda de gelo. Se as emissões diminuírem, a probabilidade da perda abrupta de gelo também cai. "Nossa pesquisa indica que a sociedade ainda pode minimizar os impactos", diz Holland.