Estudo revela sinal recente de evolução entre humanos.


Estudo liga início da criação de gado na África Oriental à disseminação de uma mutação genétioca que permite que adultos tolerem o principal açúcar do leite.

WASHINGTON - Uma equipe internacional de cientistas descobriu que algumas populações da África Oriental desenvolveram, em tempos relativamente recentes, a mutação genética que permite a adultos digerir a lactose, o principal açúcar do leite.

O estudo, encabeçado por Sarah Tishkoff, da Universidade de Maryland, mostra que a mutação ocorreu de forma independente da que deu aos europeus a mesma capacidade, e surgiu quando alguns africanos passaram a criar gado.

A descoberta não mostra apenas que cultura e genética evoluem juntas, afirma Tishkoff, mas també, é "uma das marcas genéticas mais impressionantes de seleção natural já observadas em humanos".

Seres humanos adultos não eram, originalmente, capazes de digerir lactose - o gene responsável por produzir a enzima necessária, a lactase, desativava-se a partir de uma certa idade.

É preciso uma mutação genética para manter a lactase ativa na idade adulta. Essa mutação acabou sendo favorecida nos povos do norte da Europa que domesticaram gado. Descendentes de culturas que não domesticaram o gado, ou que não usavam o leite como parte da dieta - como povos do sul da Europa, asiáticos e africanos - não têm a mutação, e não conseguem digerir laticínios.

O estudo de Tishkoff parece resolver o mistério de como alguns povos africanos, que criam gado e conseguem digerir leite, não têm a mesma mutação que os europeus.

Seqüenciando DNA coletado de diversos grupos étnicos africanos, a equipe da cientista encontrou uma mutação genética diferente da européia, e que deve ter surgido de forma independente.

Analisando os genes, Tishkoff e colaboradores determinaram que a mutação para a digestão da lactose começou a aparecer nos europeus do norte na mesma época em que esses povos passaram a criar gado leiteiro, há 9.000 anos. A mutação africana, distinta, tornou-se comum de 7.000 a 3.000 anos atrás. Evidência arqueológica liga esse período à disseminação da criação de gado na região.

O trabalho sobre a descoberta da nova mutação será publicado no periódico Nature Genetics.