Sonda vê buraco negro em ação.

Um telescópio da Nasa flagrou pela primeira um buraco negro engolindo uma estrela. Ao captar os raios ultravioleta emitidos durante esse violento evento cósmico, a sonda orbital Galex (abreviação de Galaxy Evolution Explorer), da Nasa, deve ajudar astrofísicos a estudar o processo para entender como os grandes buracos negros evoluem junto das galáxias que os abrigam.

Nasa/JPL/Caltech
Desenho mostra buraco negro distorcendo e engolindo estrela
Desenho mostra buraco negro distorcendo e engolindo estrela
Buracos negros são objetos cósmicos com concentração de massa tão grande que, a uma certa distância, nem a luz é capaz de escapar de sua gravidade. "Um buraco negro supermaciço no núcleo de uma galáxia é revelado quando uma estrela passa perto o suficiente para ser rompida por forças de maré [distorção causada pela gravidade]", escreveram os cientistas em estudo divulgado ontem. "Um clarão de radiação é emitido pelos restos estelares que mergulham do buraco negro", explicam em trabalho que será publicado na revista "The Astrophysical Journal" (www.journals.uchicago.edu/ApJ).

Segundo os autores do estudo, o fenômeno observado pelo Galex que permitiu identificar o buraco negro gigante em ação foi um clarão de raios ultravioleta vindo do interior de uma galáxia distante, a 3 bilhões de anos-luz. A freqüência da radiação captada pelo Galex estava dentro daquela esperada para o fenômeno.

"A luminosidade, a temperatura da radiação e a curva de decaimento do clarão estão perfeitamente em acordo com previsões teóricas para a perturbação de maré [distorção gravitacional] sobre a estrela", relatam os cientistas.

Centro movimentado

Os cientistas afirmam que a única maneira de explicar esse clarão misterioso é recorrer às previsões teóricas sobre buracos negros em atividade. Acredita-se que buracos negros supermaciços como o detectado pelo Galex existam no centro de todas as galáxias, incluindo a Via Láctea, aquela onde o Sol reside.

"Esse clarão ultravioleta veio de uma estrela sendo literalmente rompida e engolida pelo buraco negro", disse o astrofísico Suvi Gezari, do Caltech (Instituto de Tecnologia da Califórnia), um dos autores do estudo. "Esse tipo de evento é muito raro, então tivemos sorte de poder estudar todo o processo do início ao fim."

O trabalho publicado agora é resultado do fruto de dois anos de observação seguidos de vários meses de análise. A sorte à qual Gezari se refere é a de ter conseguido observar a galáxia antes do início do processo de captura. "Nós observamos a galáxia em 2003 e não havia nenhuma luz ultravioleta vindo de lá", disse. "Depois, em 2004, vimos de repente essa fonte [de radiação] extremamente brilhante."

Para complementar as observações, os astrofísicos também usaram imagens feitas na faixa de freqüência dos raios X, captadas pelo telescópio espacial Chandra. Na década de 1990, esse observatório orbital já tinha colhido imagens de núcleos galácticos mostrando o cenário antes e depois de estrelas serem engolidas, mas nunca o fenômeno havia sido captado durante o processo.

Sorte de veterano

"Essa foi a primeira vez que realmente conseguimos monitorar o clarão de radiação de um evento desses em detalhes", afirmou Gezari. Ele expressa em números aquilo que chama de sorte: "Só uma vez a cada 10 mil anos uma estrela passa perto o suficiente de um buraco negro no centro [de uma galáxia] para ser destruída e engolida dessa maneira".

Os cientistas pretendem agora usar os dados descritos no estudo para observar outras galáxias. "Agora que sabemos que podemos observar esses eventos com luz ultravioleta, temos uma ferramenta para achar outros", diz Gezari.