Som "mágico" de violinos como o Stradivarius pode estar na química da madeira.
O segredo do som de instrumentos como os violinos Stradivarius pode estar escondido na fervura da madeira em água com sais. Segundo um estudo publicado pela revista "Nature", uma simples técnica de controle de pragas pode ter dado origem a um dos melhores instrumentos já construídos.Bioquímicos afirmam que a chave de um som agradável pode residir não apenas em sua construção, mas também na química usada para tratar a sua madeira.
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Hoje, há 600 exemplares do violino Stradivarius, avaliado em US$ 10 milhões cada |
Um grupo de cientistas, liderado por Joseph Nagyvary, da Texas A&M University, usou ressonância nuclear magnética e um espectro infravermelho para analisar a química que cobre a madeira de instrumentos atuais.
Lascas de madeira de violinos modernos foram comparadas com partes de cinco instrumentos antigos, pertencentes ao período de 1700. No grupo, havia um violino e um violoncelo Stradivarius, um violino Guarnieri, um violino parisiense Gand & Bernardel e uma viola Henry Jay, de Londres.
Controle de pragas
Os resultados mostram que as moléculas de hemicelulose (pequena cadeia de polímeros de açúcar encontrada ao longo das membranas de células da madeira, contendo celulose e lignina) dos instrumentos Stradivarius e Guarneri estavam quebradas --um efeito de reações químicas, como oxidação e hidrólise.
Isso poderia, em alguns casos, ser o resultado de uma ação natural da madeira. Mas, Nagyvary afirma que a explicação mais provável é que a madeira tenha sido quimicamente tratada. Agentes oxidantes, como sal e cobre, por exemplo, podem ter sido usados na proteção da madeira contra pragas.
"O que podemos observar é o resultado de um elaborado tratamento da madeira", afirma Nagyvary. "Cupins e fungos eram grandes problemas para artesãos. Eles, provavelmente, ferviam a madeira em salmoura contendo vários minerais para exterminar as infestações."
A receita exata utilizada ainda é desconhecida, mas o resultado foi a produção de uma madeira mais resistente, mais leve e que produz um som muito mais suave.
Pesquisadores, músicos e artesãos já atribuíram a fina qualidade do som de antigos instrumentos, em parte, à alta densidade da madeira utilizada (graças às condições climáticas que proporcionaram um lento crescimento da árvore, durante um certo período da história), ao modo como a madeira foi aquecida para tratamento e mesmo às propriedades de algum verniz.
Hoje, com apenas 600 exemplares do violino Stradivarius, avaliados em mais de US$ 10 milhões cada, é bastante difícil estudar a madeira do instrumento.