Neblina pré-histórica pode ter gerado a vida na Terra.
Experimento, envolvendo metano e luz ultravioleta, usou como modelo a lua Titã.
WASHINGTON - Céus nebulosos da Terra primitiva podem ter sido uma importante fonte de matéria orgânica para a origem da vida no planeta, de acordo com novo estudo da Universidade do Colorado (EUA), publicado nesta semana no periódico Proceedings for the National Academy of Sciences.
A equipe de cientistas mediu a quantidade de partículas orgânicas geradas a partir dos gases que, acredita-se, existiam nos primórdios da Terra. O experimento baseou-se nas condições encontradas pela sonda Huygens na lua Titã, do planeta Saturno, explica uma das autoras do estudo, Margaret Tolbert.
Os pesquisadores simularam os céus de Titã, expondo gás metano aos raios de uma lâmpada ultravioleta, e em seguida acrescentaram dióxido de carbono à mistura, para ver se essas condições, provavelmente análogas às da Terra primitiva, geraria uma neblina de material orgânico.
"A neblina orgânica pode se formar sob uma ampla gama de concentrações de metano e dióxido de carbono", disse Tolbert. "Isso significa que as condições nebulosas podem ter estado presentes por muitos milhões, ou mesmo um bilhão de anos, enquanto a vida na Terra evoluía".
De acordo com outra co-autora do estudo, Melissa Trainer, a química na atmosfera de Titã pode oferecer importantes pistas para a compreensão do clima na Terra, no período do surgimento da vida. Titã é uma lua incomum, pois tem atmosfera - no caso, espessa com partículas flutuantes que se formam por meio de processos fotoquímicos, que ocorrem quando a luz do Sol reage com os gases.
De acordo com o estudo, uma neblina similar, na Terra, poderia ter despejado mais de 100 milhões de toneladas de material orgânico na superfície do planeta, a cada ano. "Conforme caíam do céu, essas partículas teriam oferecido uma fonte global de alimento para organismos vivos" , disse Trainer.
Estudos anteriores para entender os primórdios da vida focalizaram ambientes extremos, como fossas térmicas submarinas, onde há abundância de energia e nutrientes, diz Tolbert. O novo estudo mostra que uma fonte de alimento semelhante poderia ter sido produzida me escala global, possivelmente ampliando o domínio habitável do planeta.
Além de servir como fonte de material, a neblina teria protegido a superfície da intensa radiação solar e ajudado a regular o clima.