Telescópios poderão sintonizar TVs de ETs.

Telescópios poderão sintonizar TVs de ETs

Equipamentos de nova geração, criados para sondar os primórdios do Universo, atuarão na mesma faixa de freqüência que os sinais comuns de rádio e televisão.

LONDRES - Radiotelescópios criados para estudar os primórdios do Universo poderão também funcionar como "gatos" nas transmissões de TV de civilizações extraterrestres semelhantes à nossa. "Por uma feliz coincidência", diz Abraham Loeb, da Universidade Harvard, "os telescópios serão sensíveis ao tipo exato de emissão de rádio que a nossa civilização joga no espaço". Loeb fez essas declarações à revista britânica NewScientist.

A nova geração de radiotelescópios foi projetada para captar ondas de rádio emitidas por moléculas neutras de hidrogênio no início do Universo. Esses sinais tinham, originalmente, um comprimento de onda de 21 centímetros. Mas, como o Universo se expandiu desde que foram emitidas, as ondas acabaram esticadas. Hoje, o comprimento da emissão é de vários metros, correspondendo à faixa de freqüência das centenas de megahertz. "Isso se sobrepõe às nossas emissões de rádio artificiais, que vão de 50MHz a 400 MHz", explica Loeb.

Loeb e Matias Zaldarriaga, também de Harvard, dizem que as emissões mais potentes originadas no nosso planeta vêm de radares militares, e de transmissores de FM e televisão. Se extraterrestres estiverem gerando sinais semelhantes, esses "picos" no espectro de rádio serão discerníveis em telescópios como o Arranjo de Baixa Freqüência (LoFaR), que se encontra em construção na Holanda.

O poder dos novos telescópios como o LoFaR, de detectar picos de rádio, significa que eles serão capazes, também, de medir o desvio sofrido pela freqüência à medida que o planeta dos extraterrestres gira em torno de sua estrela. Isso permitirá deduzir o formato da órbita, a inclinação do eixo planetário e a distância entre planeta e estrela. "Isso, por sua vez, permitirá calcular a temperatura na superfície, e se é possível haver água", diz Loeb.

Os dois colegas afirmam que a técnica deverá ser capaz de detectar vazamentos de rádio de civilizações dentro de um raio de 1.000 anos-luz da Terra. Claro, o projeto todo depende de haver alguma civilização parecida com a nossa dentro desse espaço, uma probabilidade "difícil de quantificar", reconhece Loeb.

Há dificuldades mais imediatas, também: como lembra Seth Shostak, do Instituto SETI - que realiza programas de busca por inteligências extraterrestres - ao examinar as mesmas faixas de freqüência usadas pela humanidade, o projeto encontrará uma enorme interferência. "Distinguir ET da BBC será um desafio".