Evolução faz grilo havaiano parar de cantar.
O grilo mudo escapa de um parasita que é atraído pela canção.
RIVERSIDE, EUA - Em poucas gerações, disseminou-se, entre os grilos machos da ilha havaiana de Kauai, uma mudança genética que os tornou incapazes de cantar para atrair fêmeas. A princípio essa poderia ter sido uma mutação prejudicial, forçando os grilos "mudos" ao celibato e, por conseqüência, ao desaparecimento.
Mas não foi o que ocorreu: os machos não-cantantes desenvolveram um comportamento que lhes permite acasalar. Além disso, ao não emitir som, esses machos mutantes escaparam de uma mosca que usa o estalo do grilo para localizar hospedeiros nos quais põe ovos.
Uma equipe de cientistas, liderada por Marlene Zuk, da Universidade da Califórnia, Riverside, descobriu que, após 20 gerações, mais de 90% dos grilos machos da espécie Teleogryllus oceanicus em Kauai passaram a ter as "asas chatas" que impedem o canto. A mutação realmente protege o grilo da infecção pela mosca parasitária Ormia ochracea.
Ao encontrar um grilo macho, a mosca bota ovos nele. Ao nascer, as larvas matam o hospedeiro. Os resultados do estudo aparecem no periódico Biology Letters.
"A cada visita que fizemos a Kauai, desde 1991, observamos menos grilos", disse Zuk. "Em 2001, mal ouvimos um único macho cantar. Mas em 2003, embora não ouvíssemos nenhum macho, descobrimos que eles não só abundavam, mas também que quase todos tinham asas como as fêmeas, sem a estrutura necessária para produzir o canto".
Zuk pondera que a proteção contra a mosca tem um "alto preço": como as fêmeas localizam os machos silenciosos? A bióloga levanta a hipótese de que os machos que não cantam agem como "satélites" dos que ainda podem cantar, posicionando-se ao redor deles, e interceptam algumas das fêmeas que se dirigem aos machos tradicionais.
"O comportamento dos ´asas-chatas´ permite que capitalizem nos poucos cantantes que permanecem, e assim escapar da mosca e se reproduzir. Isto é a evolução em ação", diz a bióloga.