25% têm ou terão distúrbio de ansiedade.
Especialista alerta para alcance dos transtornos de pânico e fobias, que aumentaram e passaram a ser mais diagnosticados.
Adriana Dias Lopes
No dia 14, a psiquiatra Ana Beatriz Barbosa Silva lança em São Paulo seu 4º livro sobre alterações mentais - Mentes com Medo, da Compreensão à Superação (Editora Integrare, 97 págs., R$ 32,90). Com linguagem simples, ela fala dos transtornos de ansiedade, que já viraram epidemia. Segundo ela, estudos apontam que pelo menos 25% da população sofre ou vai sofrer de pelo menos um tipo deles.
A incidência de transtornos era menor no passado ou os transtornos não eram diagnosticados?
As duas coisas. Os transtornos de ansiedade sempre foram os mais freqüentes entre as doenças de alteração mental. Mas os médicos descobriram isso só no fim da década de 80, início dos anos 90. Antes, eles não eram nem classificados como doença. Muita gente ia para o pronto-socorro com síndrome de pânico e os médicos achavam que era "piti". No entanto, todos os transtornos são resultado de alterações bioquímicas. E isso é real. Por outro lado, o stress, um dos fatores que mais incitam os transtornos, nunca foi tão presente na vida da gente.
Quais são os tipos de transtorno mais freqüentes?
As fobias representam a metade. De inseto, elevador e avião são as mais freqüentes. A outra metade é dividida principalmente em síndrome do pânico, transtorno de stress pós-traumático e transtorno obsessivo-compulsivo.
O que eles têm em comum?
A origem é sempre o medo. O medo é saudável, ele nos defende da luta e do improviso. É uma reação de sobrevivência. Mas, quando começa a atrapalhar nosso dia-a-dia, seja na vida profissional, familiar ou social, vira transtorno.
O stress ambiental é o maior estimulante dos transtornos de ansiedade?
Não. Se não, o agricultor que mora na cidade de 10 mil habitantes nunca teria fobia. O que mais pesa é o stress afetivo: como a pessoa lida com as emoções. Quem vive em função do que o parceiro sente, por exemplo, passa por um stress tremendo. Em segundo lugar, vêm o stress profissional e o ambiental.
Uma situação muito estressante já é suficiente para desencadear um transtorno?
Dificilmente. O transtorno do pânico, por exemplo, surge depois de uma descarga contínua de noradrenalina (hormônio liberado em situações de perigo para preparar uma reação) de pelo menos dois anos.
Como é o mecanismo no cérebro?
Depois de um tempo contínuo de descarga de stress, o cérebro perde a capacidade de saber quando deve disparar o gatilho da noradrenalina. É como se não soubesse mais o momento certo. Não se descobriu ainda a razão de isso acontecer só com algumas pessoas.
As reações de quem tem um ataque de pânico são as mesmas numa situação de medo qualquer?
São idênticas: taquicardia, sudorese, contração muscular, dificuldade de respirar. A diferença é que, quando o medo é saudável, ele é desencadeado por uma situação identificada.
Nas fobias, a origem do medo não é identificada?
Sim, mas ela é completamente desproporcional à reação de medo. O fóbico não tem medo da situação em si, da barata, do avião. Mas dos sintomas que ele associa à situação, como a taquicardia, o pavor.
É possível afirmar que o cérebro de quem sofre de transtornos de ansiedade tem capacidade de armazenar mais emoções negativas do que boas?
Exato. O cérebro arquiva principalmente as ruins, como uma maneira de proteção, para ele reconhecer instintivamente uma reação de perigo que já viveu.
Como é o tratamento?
Há um exagero na indicação de remédios hoje em dia. Não existe pílula mágica, principalmente para as fobias. Existe uma técnica chamada de auto-exposição ao estímulo fóbico, que é o enfrentamento gradual das situações que provocam medo. Isso é feito até se perceber que não existe ameaça. A pessoa começa com relaxamento, depois imagina cenas ligadas à fobia.
Dá para curar sem tratamento psiquiátrico?
Dá, mas ela vai ter que ter uma pessoa com muita força de vontade ao lado.