Grupo vê corrida evolutiva entre planta e fungo parasita.
RICARDO BONALUME NETOÉ guerra. Guerra biológica, guerra entre espécies. E das bravas: os danos anuais são estimados em US$ 5 bilhões, principalmente na cultura da soja.
Meia centena de pesquisadores descobriu agora que os principais guerreiros, seres assemelhados a fungos do gênero Phytophthora --literalmente, "destruidor de plantas" em grego-- estão pesadamente equipados para o combate.
A análise do material genético de duas dessas espécies matadoras de plantas --nomes científicos Phytophthora sojae, praga da soja, e Phytophthora ramorum, praga do carvalho-- mostrou que nada menos que 45% dos seus genes podem estar associados à infecção.
É um bocado de energia dedicada a penetrar as plantas para atacá-las, sinal claro de que a guerra entre o patógeno e sua vítima é daquele tipo desesperado, onde não são feitos prisioneiros.
É comum na natureza que exista uma "coevolução" entre seres vivos, como um parasita e o seu hospedeiro. Neste caso, instala-se um tipo de corrida armamentista, na qual uma espécie se adapta à outra --um deles desenvolve novos "truques" genéticos que o tornam um parasita mais eficiente, e então o hospedeiro também aumenta suas defesas. Esse tipo de evolução conjunta ocorre com o plasmódio, causador da malária, que passa parte do seu ciclo de vida dentro do mosquito que dissemina a doença, parte dentro do organismo humano.
O gênero Phytophthora inclui a praga que dizimou a batata na Irlanda no século 19, a principal cultura de subsistência do país, resultando em uma grande fome e no êxodo irlandês.
A equipe que seqüenciou, isto é, decifrou a ordem do material genético, dos dois patógenos foi liderada por Brett M. Tyler, do Instituo Politécnico da Virgínia e da Universidade Estadual da Virgínia (EUA). O estudo está publicado na edição de hoje da revista americana "Science".
As duas espécies de Phytophthora estudadas estão bem armadas para a guerra. Elas mostraram ter uma grande quantidade de genes ligados à produção de verdadeiras "armas biológicas" --toxinas e enzimas capazes de, por exemplo, destruir as paredes celulares nas plantas atacadas.
A equipe chefiada por Tyler mostrou também que os genes envolvidos com a produção dessas armas têm evoluído de modo mais rápido que o resto, indicando a existência de uma corrida entre patógeno e planta.