"Soluços" do DNA podem estar por trás da natureza humana.

Humanos têm 200 cópias de um mesmo trecho de DNA, que existe em menor quantidade em ratos e macacos.

WASHINGTON - Pesquisadores que investigam o funcionamento do código genético encontraram um novo mecanismo da evolução: a simples replicação de um pedaço de um gene - de um exemplar em camundongos para mais de 200 em humanos - pode ter desencadeado algumas das mudanças no cérebro que nos definem, de acordo com um novo estudo, publicado na edição desta sexta-feira da revista Science.

A evolução se dá quando genes sofrem mutações, ou quando mudam o modo, o momento e a intensidade de sua atuação. Além disso, "soluços" na replicação do DNA podem levar a mudanças, ao fazer com que partes de genes sejam repetidas durante o processo de replicação. Genes dobrados ou regiões duplicadas podem surgir, e embora um dos componentes do par geralmente continue a desempenhar o papel original, o outro é livre para mudar e assumir novos papéis que podem melhorara as chances de sobrevivência do organismo.

Em um trabalho anterior, James Sikela, da Universidade do Colorado, Jonathan Pollack, de Stanford, e colegas descobriram 134 genes que foram duplicados, principalmente, depois que os ancestrais da humanidade se separaram dos outros primatas. No novo estudo, Sikela, Gerald Wyckoff, da Universidade do Missouri e colegas compararam a seqüência desses genes em primatas, bem como ratos e camundongos, para reconstruir a história das duplicatas.

Eles descobriram 44 genes com mais de cinco exemplares de cada no genoma humano. Um em especial, MGC8902, chamou a atenção: humanos têm 49 exemplares, chimpanzés têm 10 e macacos não-antropóides, quatro, de acordo com o artigo preparado pelo grupo para a Science. Um olhar mais atento mostrou que gene superduplicado contêm trechos duplicados: seis exemplares de um domínio chamado DUF1220.

Esses domínios existem em outros primatas, mas são mais comuns em humanos, diz Sikela. Os pesquisadores descobriram que os genes com o domínio DUF1220 se expressam no coração, baço, músculos e intestino delgado, e são particularmente ativos no neocórtex cerebral.