Mudança de clima pode favorecer peste bubônica, diz estudo.

Mais de 3 mil casos de peste bubônica são relatados por ano (Foto: Barry Dowsett/Acervo Fotográfico Science)
Mais de 3 mil casos de peste são relatados por ano (Foto: Barry Dowsett/Acervo Fotográfico Science)
Mudanças climáticas podem levar a mais epidemias de peste bubônica na população humana, segundo informações de um estudo.

Pesquisadores descobriram que a bactéria que causa a doença pode se tornar mais comum depois de primaveras mais quentes e verões com mais chuvas.

A doença ocorre naturalmente em várias partes do mundo e equipes de pesquisadores esperam que sua descoberta possa ajudar autoridades a limitarem o risco de futuras epidemias.

A pesquisa foi publicada na revista científica Proceedings of the National Academy of Sciences.

Acredita-se que a bactéria Yersinia pestis tenha sido a causa da Peste Negra, que matou mais de 20 milhões de pessoas durante a Idade Média.

Cazaquistão

A equipe internacional de cientistas, que concentrou suas pesquisas no Cazaquistão, afirmou que a doença é comum entre populações de roedores.

Escrevendo para a revista, um dos autores da pesquisa Nils Stenseth, da Universidade de Oslo, afirmou: "As regiões desertas da Ásia central são conhecidas por ter vários focos da praga onde o grande gerbil (ou Esquilo da Mongólia, o roedor Rhombomys opimus) é o seu hospedeiro."

"Transmissão da peste exige abundância de hospedeiros e um número suficiente de pulgas ativas como vetores transmitindo a bactéria da peste entre os hospedeiros", afirmou Stenseth.

Pulgas ficam ativas quando as temperaturas ultrapassam 10° C. Uma primavera mais quente significa que a procriação das pulgas começa mais cedo.

A população de pulgas continuou a crescer quando a primavera foi seguida de um verão mais úmido, com mais chuvas, segundo o pesquisador.

A combinação das condições climáticas das duas estações levou a um aumento no número de insetos que alimentam o gerbil, resultando numa maior transmissão da peste.

O estudo mostrou que apenas 1°C de aumento na temperatura durante a primavera levou a um aumento de 59% na prevalência da doença.

A maior prevalência da peste entre os animais silvestres da região aumentou o risco das populações humanas locais se infectarem.

A cada ano mais de 3 mil casos de peste bubônica entre humanos são relatados na Ásia, partes da África, Estados Unidos e América do Sul.

Padrões climáticos

Os pesquisadores estudaram dados a respeito de gerbils infectados, contagem de pulgas e padrões climáticos entre 1949 e 1995.

O professor Stenseth afirmou que suas descobertas também vão ajudar a esclarecer dúvidas a respeito das duas piores epidemias de peste bubônica: a Peste Negra na Idade Média e a pandemia na Ásia, no século 19, que mataram dezenas de milhares de pessoas.

"Análises a respeito do clima mostram que as condições durante a epidemia de Peste Negra (1280-1350) foram mais quentes e com mais chuvas", disse.

"O mesmo ocorreu durante a origem da Terceira Pandemia na Ásia (1855-1870) quando o clima era mais úmido e passou por uma tendência mais quente", acrescentou.

O professor afirmou que as recentes mudanças no clima da região sugerem que primaveras mais quentes estão se tornando mais freqüentes, aumentando o risco de infecções entre humanos.