Novos dados lançam dúvida sobre evolução da Via-Láctea.
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WASHINGTON - Uma forma rara do hidrogênio, criada minutos após o Big Bang, foi descoberta em quantidades maiores que o esperado na Via-Láctea, um achado que poderá alterar radicalmente as teorias sobre a formação das estrelas e galáxias. O astrofísico Jeffrey Linksy afirma que novos dados reunidos pelo satélite Fuse, da Nasa, mostram por que o hidrogênio pesado, ou deutério, aprece distribuir-se irregularmente pela Via-Láctea: ele está grudado a partículas de poeira, transformando-se da forma gasosa, fácil de detectar, para uma forma sólida inobservável.
O estudo do Fuse sobre o deutério, que passou seis anos em elaboração, resolve um mistério de 35 anos referente à distribuição do gás na Via-Láctea, mas levanta questões sobre a forma como galáxias e estrelas se formam. Um artigo sobre o assunto será publicado na edição de 20 de agosto do periódico The Astrophysical Journal. "Desde os anos 70 que éramos incapazes de explicar por que os níveis de deutério variam tanto de um lugar para o outro", disse Linsky. "A resposta que encontramos é tão perturbadora quanto interessante".
Cientistas acreditam que o deutério, um isótopo do hidrogênio contendo um próton e um nêutron, queima-se e é destruído durante a formação das estrelas. Logo, a quantidade de deutério presente no Universo hoje seria "pura", e permitira rastrear a criação de estrelas ao longo de bilhões de anos.
Em 2003, o pesquisador Bruce Draine, um dos autores do trabalho atual, havia sugerido que o deutério teria uma preferência por se ligar a grãos de poeira. As observações do Fuse apóiam essa teoria: onde há muita poeira, há menos deutério visível. E onde há menos poeira, o deutério é mais fácil de detectar.
As teorias anteriores supunham que pelo menos um terço de todo o deutério criado nos primórdios do Universo e presente na Via-Láctea teria sido destruído na formação de estrelas. Mas, de acordo com os dados do Fuse, a perda de deutério seria inferior a 15% da quantidade primordial.
"Isso implica que ou muito menos material foi fundido nas estrelas, ou muito mais gás primordial caiu na nossa galáxia", diz Linsky. "Nossos modelos da evolução química da Via-Láctea terão de ser revistos".