Plantas transmitem estresse para descendentes.
A reação de uma planta ao estresse se perpetua nos descendentes, até a quarta geração.
WASHINGTON - Não é fácil ser uma planta. Arbustos, flores e árvores precisam sobrevivem ao apetite de animais herbívoros e doenças, além de enfrentar uma competição constante pelos nutrientes do solo e, literalmente, por um lugar ao sol. As plantas reagem a esses desafios alterando o próprio genoma. Agora, pesquisadores mostram que o impulso para realizar esse tipo de alteração passa para as descendentes até a quarta geração.
O estresse afeta o genoma das plantas de várias formas. Se elas forem atingidas por excesso de radiação ultravioleta, por exemplo, o genoma passa por um processo chamado recombinação homóloga, no qual pedaços de DNA são trocados entre trechos parecidos do genoma. Cientistas acreditam que essas mudanças podem ajudar a planta a superar a crise, provavelmente protegendo o DNA contra danos. Nesse caso, faria sentido que a descendência tivesse a mesma característica, já que o estresse pode ser uma característica do ambiente.
Para testar a hipótese, os biólogos Jean Molinier e Barbara Hohn, do Instituto Friedrich Miescher, em Basiléia, Suíça, modificaram a planta Arabidopsis thaliana, de forma que ela teria pintas azuis se sofresse recombinação homóloga. As plantas em seguida foram "estressadas" - com luz ultravioleta ou infecção bacteriana - e, conforme esperado, tiveram um nível de recombinação até quatro vezes maior que as plantas "tranqüilas".
Surpreendentemente, porém, as plantas descendentes das estressadas revelaram uma quantidade de recombinação semelhante à das ancestrais, a despeito da falta do estímulo estressante. "É como se a descendência memorizasse o insulto sofrido pelos pais", diz Hohn, de acordo com o serviço noticioso ScienceNOW. E o alto nível de recombinação dura até a quarta geração, de acordo com o estudo, publicado online na revista Nature.