Células usam coordenadas para se posicionar no corpo.
Cientistas descobriram que células da pele utilizam um sistema de coordenadas para identificar o lugar no corpo ao qual pertencem, e como agir uma vez que chegam até ele.
WASHINGTON - Os aficionados pelos sistema de Posicionamento Global (GPS) sabem que é possível definir precisamente qualquer local no mundo com apenas três coordenadas geográficas: latitude, longitude e altitude. Agora, cientistas da Escola de Medicina da Universidade de Stanford descobriram que células da pele especializadas utilizam um sistema similar de mapeamento para identificar o lugar no corpo ao qual pertencem, e como agir uma vez que chegam até ele.
Esses pontos de referência celulares direcionam o padrão embrionário e a cicatrização de ferimentos, enviando informações vitais de localização aos seus vizinhos, e podem ajudar no crescimento de tecidos para transplante e no entendimento do câncer.
"Há uma lógica no corpo que nós não entediamos antes", disse John Rinn, professor de dermatologia. "Nossa pele se mantém ativa durante nossas vidas, e esses ´códigos de endereço´ ajudam as células a saber como reagir de maneira apropriada". Rinn é o primeiro autor da pesquisa, que está na última edição da Public Library of Science-Genetics.
Até agora, têm sido um mistério como a pele adulta, que consiste basicamente nos mesmos componentes por todo o corpo, sabe fazer crescer pêlos em algumas áreas como o couro cabeludo, enquanto constrói glândulas sudoríparas, calosidades e as voltas das impressões digitais, em outras.
Os cientistas analisaram os perfis de expressão genética de fibroblastos adultos de mais de 40 áreas do corpo. Eles encontraram cerca de 400 genes cujos padrões de expressão variaram de acordo com a localização original da célula. Aqueles da metade de cima do corpo - braços, cabeça e peito, por exemplo - compartilhavam padrões de expressão que eram marcantemente diferentes dos padrões compartilhados pelas células da outra metade, como pernas e pés. Padrões similares existem entre células originárias de locais próximos ou distantes do centro do corpo, e entre aquelas da camada mais superficial ou mais profunda da pele.
Embora essas três divisões anatômicas, grosseiras, não fornecem as coordenadas precisas como as do GPS, elas ajudam a explicar as similaridades entre a pele das palmas das mãos e das relativamente distantes solas dos pés. Assim como áreas do planeta que têm vegetação similar e compartilham a latitude e a altitude, mas diferem na longitude, tanto as palmas quanto as solas estão na camada mais superficial da pele, ficam distantes do centro do corpo e são mais parecidas entre si do que com seus vizinhos biológicos.
"Idealmente, nós podemos usar essa descoberta para desenvolver um mapa de posicionamento que nos permitirá correlacionar a localização e a função, de maneira que ficará mais fácil regenerar certas partes do corpo", disse Rinn.
Porém, nem todos os tipos de células da pele expressam padrões genéticos que podem ser correlacionados com sua localização no corpo. "Nem toda célula possui este código", explicou Rinn. "Eu gosto de pensar nos fibroblastos como células espertas e paternais, que podem dizer às outras como se comportar". Seu estímulo é inestimável durante a embriogênese, o crescimento normal e a cura de ferimentos, cada um dos quais requer reações específicas de localização das células.