Quantidade de micróbios marinhos pode ser até 100 vezes maior.

Estudo mostra que a imensa maioria destes organismos era desconhecida até agora.

EFE

TORONTO, Canadá - A quantidade e a variedade de microorganismos que vivem nos oceanos podem ser até 100 vezes maior do que se imaginava até agora, segundo um estudo elaborado por um grupo de cientistas e divulgado nesta segunda-feira.

O trabalho, publicado na revista da Academia Nacional de Ciências dos EUA, revela que a diversidade e a quantidade de micróbios no oceano podem ser entre 10 e 100 vezes maior do que o esperado, e que a imensa maioria destes organismos era desconhecida para a ciência até agora.

O responsável pelo projeto, o diretor do Centro Josephine Bay Paul de Biologia Molecular Comparativa e Evolução, Mitchell Sogin, disse que a descoberta biológica comprova a existência de uma "rara biosfera" no fundo dos oceanos.

Segundo Sogin, a descoberta do projeto englobado no Censo da Vida Marinha, no qual trabalham mais de 1.700 cientistas de 73 países de todo o mundo, simplesmente "acaba" com as estimativas anteriores sobre a diversidade de bactérias no oceano.

Se até agora calculava-se que havia em torno de 500 mil microorganismos, "o estudo eleva agora este número para entre cinco e dez milhões".

O cientista chileno Victor Gallardo, da Universidad de Concepción e vice-presidente do Comitê Científico do Censo, se mostrou "muito impressionado" com a descoberta da equipe de cientistas dirigida pelo professor Sogin.

"Demonstra a forma pela qual a vida utiliza os recursos neste planeta, assim como as formas nas quais podemos encontrar vida fora da Terra", acrescentou o professor Gallardo.

A equipe de Sogin (que inclui outros sete cientistas dos Estados Unidos e da Holanda, assim como o espanhol Jesus M. Arrieta, do Instituto Mediterrâneo de Estudos Avançados), detectou 20 mil micróbios em um só litro de água do mar, "quando o previsto era apenas de mil a três mil".

As amostras foram recolhidas em profundidades que variam entre 550 e 4.100 metros, em oito pontos do Atlântico (entre a Groenlândia e a Irlanda) e do Pacífico (inclusive um próximo a um vulcão submarino a cerca de 480 quilômetros do litoral do Oregon).

Sogin explicou que a importância da descoberta reside no fato de entre 90% e 98% da massa da vida do oceano ser formada por microorganismos.

Caso todos os organismos vivos que habitam o oceano fosse divididos, os micróbios constituiriam a imensa maioria do peso, enquanto peixes, mamíferos e outras espécies de animais e vegetais somariam entre 2% e 10% da massa.

Sogin aponta para outro dado que ressalta a importância da descoberta. "Durante mais de 80% da história da Terra, os micróbios foram a única forma de vida no planeta. Eles foram os responsáveis pelas grandes mudanças que permitiram a aparição de formas de vida superiores. Os micróbios podem viver sem nós, mas nós não podemos viver sem eles", disse.

Os cientistas consideram fundamental compreender o papel destes microorganismos, que sobreviveram durante longos períodos na evolução. Um dos dados mais intrigantes é que a maioria dos novos organismos descobertos pela equipe de cientistas são micróbios de pouca abundância.

"É possível que estes raros organismos estejam presentes em número elevado em alguns pontos e sua pouca abundância em outros lugares seja conseqüência de sua difusão e dispersão", disse Sogin.

Segundo os cientistas, os micróbios são elementos fundamentais nos ecossistemas marítimos e apontam para dois possíveis papéis. Um é que sejam elementos-chave da vida, apesar de seu número reduzido, ao produzir, por exemplo, componentes essenciais para outras formas de vida multicelulares.

A outra explicação é que estes organismos têm menos competição biológica e podem existir em todos os oceanos. Se as mudanças ambientais impossibilitam o crescimento de outros organismos, os integrantes desta "rara biosfera" assumem um papel mais importante no ecossistema.

Sogin o qualificou como uma "reserva de inovação genética e de genoma" que armazena informação em seus genes.