Pesquisadores mostram como o cérebro ativa comportamento inato.

Resultados apontam para a maneira como comportamentos podem ser mudados ou criados.

RIVERSIDE, EUA - Pesquisadores da Universidade da Califórnia, em Riverside, fizeram um grande avanço para o entendimento de como o cérebro programa o comportamento inato. A descoberta poderia ter aplicações futuras na engenharia de novos comportamentos em animais e robôs inteligentes.

Os comportamentos ou inatos ou "instintivos" são congênitos e não requerem aprendizado ou experiência anterior para serem realizados. Exemplos incluem o cortejo e os comportamentos sexuais, manobras de defesa e fuga, e agressão.

Utilizando a mosca frugívora comum como organismo modelo, os pesquisadores descobriram, através de experimentos em laboratório, que o comportamento inato é iniciado por um hormônio "de comando" que organiza as atividades em grupos distintos de neurônios de peptídeos no cérebro. Os neurônios de peptídeos são células cerebrais que liberam pequenas proteínas para se comunicar com outras células do cérebro e do corpo.

Os pesquisadores reportaram que o hormônio de comando ativa grupos distintos de neurônios de peptídeos no cérebro de maneira ordenada, fazendo com que a mosca realize uma seqüência bem definida de comportamentos. Os pesquisadores propõem que mecanismos semelhantes poderiam ser os responsáveis por comportamentos inatos em outros animais e, até mesmo, humanos.

O resultados do estudo estão na edição desta semana da Current Biology.

"Sabe-se que estes comportamentos - como por exemplo, comportamento sexual ou aqueles relacionados à agressão, fuga ou defesa - são programados no cérebro, e estão todos no genoma. Nós descobrimos que não apenas os passos envolvidos no comportamento inato condizem exatamente com atividades distintas dos neurônios no cérebro, mas também que os grupos específicos de neurônios de peptídeos são ativados em momentos bastante precisos, levando a cada passo sucessivo na seqüência comportamental", disse Young-Joon Kim, pesquisadora do Departamento de Entomologia da UCR.

"Nossos resultados se aplicam não apenas aos insetos; eles também fornecem dicas de como, no geral, o cérebro de mamíferos programa o comportamento, e como ele agenda os eventos com o corpo", disse Michael Adams, professor de biologia e neurociência e de entomologia, principal autor do estudo. "Entendendo como o comportamento inato é produzido no cérebro, fica possível manipulá-lo - mudando sua ordem, atrasando-o ou até mesmo eliminando-o totalmente, o que gera discussões éticas sobre se os cientistas deveriam, ou iriam querer, modificar o comportamento dessa maneira no futuro".

A mosca frugívora é uma poderosa ferramenta e um modelo laboratorial clássico para entender a genética e as doenças humanas, pois compartilha muitos genes e caminhos bioquímicos com os humanos.