Noção de realidade da mente humana é tênue, diz pesquisa.

Em mais de 20% dos casos, voluntários erraram ao tentar lembrar se realmente haviam testemunhado um acontecimento.

LONDRES - Cientistas do University College London (UCL) acreditam ter descoberto uma base neurológica comum para as alucinações e os erros cometidos por testemunhas ao descrever os eventos que presenciaram. Em mais de 20% dos casos, voluntários erraram ao tentar lembrar se realmente haviam testemunhado um acontecimento, ou se a ocorrência tinha sido apenas imaginada. O trabalho será publicado no periódico NeuroImage.

Os pesquisadores Jon Simons e Paul Burgess encabeçaram o estudo do instituto de Neurociência Cognitiva do UCL. Segundo Burgess, "em nossos testes, voluntários ou pensaram ter imaginado palavras que tinham realmente visto, ou que tinham visto palavras que haviam imaginado, em mais de 20% dos casos. Isso é um bocado de erro, e mostra como a nossa memória falha - ou como a nossa noção da realidade é fraca".

Segundo o pesquisador, o estudo tem implicações na validade das informações prestadas por testemunhas em juízo, e corrobora trabalhos anteriores que sugeriam que "nossa mente às vezes preenche lacunas na memória, e nós confundimos o que imaginamos com o que ocorreu" numa determinada situação. De acordo com Burgess, a confusão geralmente envolve "o que esperávamos que acontecesse, ou o que acontece normalmente, e o que de fato ocorreu".

O cientista afirma, porém , que a maioria das pessoas tem uma função de "monitoramento da realidade" que, se não funciona perfeitamente, costuma ser boa o suficiente, de modo que "a imaginação não tem um impacto muito grande em nossas vidas", exceto quando esse sistema falha - por exemplo, no caso da esquizofrenia.

O estudo mostrou que as áreas do cérebro ativadas quando o voluntário saudável tentava lembrar se um evento era real ou imaginário são as mesmas que funcionam mal em pessoas que sofrem de alucinações.

Nos testes, voluntários saudáveis assistiram a uma apresentação de 96 pares de palavras que costumam ser vistas juntas - como "O Gordo e o Magro", "rock and roll", "filé com fritas". Pediu-se aos voluntários que contassem o número de letras de cada segunda palavra - mas algumas vezes a segunda palavra não estava lá, e o voluntário tinha de imaginá-la, como quando aparecia "O Gordo e o ?".

Ao final da bateria, pediu-se aos voluntários que dissessem quais segundas palavras tinham efetivamente visto, e quais haviam sido imaginadas. A atividade cerebral foi observada por ressonância magnética.