Telescópio de raios-X resolve paradoxo dos buracos negros.
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WASHINGTON - Se nada, nem mesmo a luz, pode escapar de um buraco negro, como eles podem ser responsáveis por alguns dos fenômenos mais luminosos do Universo? Novos dados recolhidos pelo Telescópio Chandra de Raios-X, da Nasa, mostram que campos magnéticos são a chave para o show de luzes.
Estima-se que até 25% da radiação emitida no Universo, desde o Big Bang, vem de material que cai no interior de buracos negros supermassivos, incluindo os que geram energia para os quasares, os objetos mais brilhantes conhecidos. Durante décadas, cientistas vêm tentando compreender como os buracos negros podem ser responsáveis por tamanha quantidade de radiação.
As observações do Chandra dão a resposta, segundo a Nasa: campos magnéticos. O telescópio acompanhou um sistema de buraco negro em nossa própria galáxia, conhecido como GRO J1655-40 (ou apenas J1655), onde o buraco negro suga material de uma estrela próxima.
"Pelos padrões intergalácticos, J1655 está no nosso quintal. Então, podemos usá-lo como um modelo em escala para entender como todos os buracos negros funcionam, incluindo os monstros encontrados nos quasares", disse Jon M. Miller, da Universidade de Michigan, Ann Harbor. O artigo de Miller com os resultados da pesquisa aparece nesta semana, na revista Nature.
A gravidade não é forte o bastante para fazer com que o gás arrancado da estrela, e que forma um disco ao redor do buraco negro, caia em direção ao abismo na taxa observada. Antes de mergulhar, o gás precisa perder o momento angular - uma quantidade relacionada à energia cinética e à velocidade de rotação - que o mantém girando, seja por meio de fricção entre partículas ou de algum tipo de vento. Sem essa dissipação, o gás poderia permanecer em órbita do buraco negro por muito tempo.
Cientistas acreditavam há tempos que turbulências magnéticas poderiam gerar a fricção no disco gasoso, e impulsionar um vento que carrega o momento angular para fora, permitindo que o gás caia mais rápido.
Usando o Chandra, Miller e seus colegas obtiveram evidência crucial do papel das forças magnéticas no processo de queda do gás - chamado acreção - no buraco negro. O espectro de raios-X, que representa as diferentes energias dos raios-X gerados na acreção, mostra que a velocidade e a densidade do vento do disco de J1655 combinam com previsões de ventos impulsionados por magnetismo.
Além atuar nos discos de acreção ao redor de buracos negros, campos magnéticos poderão se mostrar importantes nos discos detectados ao redor de estrelas jovens, onde se formam planetas, e em estrelas de nêutrons.