Meteorologia pode ser uma das fontes da inteligência.

A descoberta sugere que macacos tomam decisões com base na memória de eventos passados e no conhecimento das condições meteorológicas.

WASHINGTON - Novas descobertas indicam que alguns primatas usam a informação que têm sobre as condições do tempo como ferramenta na busca por alimento. A pesquisa, que pode ajudar a explicar o desenvolvimento das capacidades cognitivas em seres humanos e outros primatas, consta da edição desta semana do periódico Current Biology.

A questão de por quê os primatas, seres humanos em especial, têm capacidades cognitivas mais desenvolvidas que os demais mamíferos é uma das mais antigas da ciência. A idéia mais comumente aceita é de que as capacidades dos primatas desenvolveram-se em resposta às interações sociais: muitas espécies de primatas vivem em sociedades complexas, o que teria favorecido a evolução de perícias sociais sofisticadas.

Embora existam muitas evidências em favor da chamada hipótese da inteligência social, há muito poucos estudos explorando uma alternativa, a idéia de que a cognição primata evoluiu para lidar com problemas de natureza ecológica, como a busca por comida.

O novo trabalho tenta preencher essa lacuna. Seguindo um grupo de macacos selvagens durante 210 dias na Floresta Kibale, em Uganda, os cientistas obtiveram um registro quase completo das decisões dos animais sobre onde e como encontrar seu prato preferido, figo maduro.

Os dados mostram que os macacos tinham uma probabilidade maior de retornar a figueiras - onde já tinham colhido frutas maduras - depois de um período de dias quentes e ensolarados do que após um período frio e chuvoso. Sabe-se que a temperatura e a luz do Sol aceleram a maturação dos figos e das larvas de inseto dentro da fruta.

A pesquisa foi capaz de mostrar que as condições meteorológicas - e não fatores sensoriais, como cheiro da fruta - explicavam o comportamento observado.

A descoberta sugere que os macacos tomam decisões com base na memória de eventos passados, combinada ao conhecimento das condições meteorológicas e de uma compreensão mais geral dos efeitos do calor na maturação do alimento. Além disso, apóia a idéia de que a evolução da cognição nos primatas se deve, ao menos em parte, de desafios ecológicos, como a busca por alimentos que não estão disponíveis todo o tempo.