Aves modernas surgiram na água, indica novo fóssil.
O animal esquisito e cheio de dentes do desenho abaixo, que mais parece um cruzamento cheio de dentes de pato com andorinha, pode ser um ancestral de todas as aves modernas. Quem diz é um grupo de pesquisadores da China e dos Estados Unidos, que desenterrou fósseis espetaculares do animal em rochas de 110 milhões de anos do noroeste chinês.Reprodução/"Science" |
Reconstituição mostra o Gansus em seu provável ambiente |
Mas os cerca de 40 fósseis do animal em bom estado de conservação recém-descobertos pela equipe se Hai-lu-You, da Academia Chinesa de Geologia, e Matt Lamanna, do Museu Carnegie de História Natural (Estados Unidos), permitiram pela primeira vez um olhar detalhado sobre o Gansus. E revelam que as aves modernas, como o frango do seu almoço, provavelmente surgiram num ambiente aquático.
"A maioria dos ancestrais das aves que viveram na era dos dinossauros são membros de grupos que se extinguiram sem deixar descendentes", afirmou Lamanna. "Mas o Gansus levou às aves modernas, então é um elo entre as aves primitivas e aquelas que vemos hoje."
Reprodução/"Science" |
Esqueleto fossilizado da ave chinesa |
"O Gansus é o mais antigo exemplo das aves quase modernas que divergiram do tronco da árvore genealógica que começa com a proto-ave Archaeopteryx", disse o americano Peter Dodson, da Universidade da Pensilvânia. Ele é co-autor do estudo que descreve os novos fósseis, publicado na edição de hoje do periódico científico americano "Science".
Vários dos esqueletos da ave, que tinha o tamanho aproximado de uma andorinha, possuíam tecidos moles preservados e até penas. Em um deles, ainda havia impressões de pele em volta de um dos dedos, o que permitiu aos pesquisadores confirmar que o Gansus yumenensis era aquático.
Asas potentes
Os esqueletos indicam que o Gansus tinha características surpreendentemente modernas para um animal dessa idade. A principal delas eram ombro e asas bem desenvolvidos. "Embora aquática, ela tinha um bom vôo", disse à Folha o paleontólogo Herculano Alvarenga, do Museu de História Natural de Taubaté, especialista em aves pré-históricas.
O pesquisador qualifica a descoberta como "extremamente interessante", e com potenciais implicações para o Brasil: a idade da formação na qual o fóssil chinês foi encontrado é mais ou menos a mesma das rochas da chapada do Araripe, no Ceará, onde já se encontraram penas isoladas.
"Isso faz pensar na possibilidade de um bicho semelhante por aqui", disse Alvarenga.
O paleontólogo paulista diz, no entanto, que o fato de o Gansus e várias outras aves do Cretáceo serem aquáticas não autoriza a pensar necessariamente numa origem aquática para as aves modernas. "O grande problema é que o ambiente aquático é mais propício à fossilização", conta. "Ele pode nos dar pistas falsas."
Com agências internacionais