Experimento com inseto faz evolução caminhar para trás.
RICARDO BONALUME NETOUma equipe de cientistas trabalhando com borboletas em laboratório conseguiu reproduzir um fenômeno raro, mas que já tinha acontecido na natureza: a criação de uma nova espécie de animal a partir de duas outras pré-existentes.
"Recriamos passos evolucionários que deram origem à Heliconius heurippa, uma espécie híbrida de borboleta", diz o pesquisador Jesús Mavárez, do Instituto de Pesquisa Tropical Smithsonian, do Panamá. O estudo foi feito em parceria com a Universidade dos Andes, da Colômbia e a Universidade de Edimburgo, na Escócia.
A teoria evolucionista afirma que, na maioria das vezes, novas espécies surgem a partir de uma anterior. Por exemplo, um ancestral comum deu origem ao homem, e ao chimpanzé.
Mas há exceções, observadas principalmente em plantas. Duas espécies podem se reproduzir criando um ser híbrido.
Em animais, porém, é mais difícil. Quando um cavalo se cruza com uma jumenta, por exemplo: o resultado é a mula, um híbrido que não consegue ter descendentes. Outros cruzamentos do tipo nem mesmo resultam em filhotes vivos.
Mas uma espécie de borboleta latino-americana, de nome científico Heliconius heurippa, deixava biólogos curiosos, pois parecia ser a mistura de duas outras, a Heliconius cydno e a Heliconius melpomene.
Elas eram, porém, espécies distintas. Segundo a definição clássica, não teriam como se reproduzir entre si. Mas os cientistas resolveram testar se poderia haver exceções, e o cruzamento em laboratório de H. cydno e H. melpomene resultou em algo parecido com a natural H. heurippa.
As cores das asas da borboleta são altamente significativas, pois dão pista ao parceiro sexual. As preferências sexuais da "nova" espécie híbrida foram testadas. Os híbridos tinham interesse em outros com o mesmo padrão de coloração, mas perdiam a paixão quando essa cor era alterada, lembrando as duas espécies originais.
"Borboletas tendem a escolher padrões que lembram elas próprias, já que são atraídas por outros com padrões nas asas semelhantes aos seus. Por isso, depois que o novo padrão foi estabelecido, esses indivíduos tendem a se reproduzir um com os outros e evitar as suas espécies-mãe", diz Chris Jiggins, da Universidade de Edimburgo.