Guerreiros de Xian ajudam a desvendar a física quântica.
Um pigmento, conhecido como púrpura de Han, tem o nome científico de BaCuSi206 e está sendo usado em experiências de física avançada.
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LONDRES - Guerreiros da China antiga estão ajudando a ciência a desvendar alguns mistérios do mundo natural. Pesquisadores do Laboratório Nacional de Alto Campo Magnético, dos EUA, estão se valendo de um pigmento usado para colorir estátuas de terracota de 2.000 anos, conhecidas guerreiros de Xian, para explorara algumas propriedades paradoxais do universo.
O pigmento, conhecido como púrpura de Han, tem o nome científico de BaCuSi206. Quando exposto a intensos campos magnéticos e temperaturas extremamente baixas, ele entra num estado da matéria que dificilmente é observado. Na pesquisa Amis recente, publicada na edição desta quinta-feira da revista Nature, mostra que na baixa temperatura em que a mudança de estado ocorre - o chamado Ponto Crítico Quântico - a púrpura de Han efetivamente perde uma dimensão: passa de três para duas.
A física teórica já havia postulado que uma redução dimensional do tipo poderia explicar algumas propriedades estranhas de outros materiais, como alguns tipos de supercondutores, em temperaturas próximas ao zero absoluto, mas até agora essa transformação não havia sido observada.
Nós vivemos em três dimensões: acima-abaixo, frente-atrás, direita-esquerda. Uma onda sonora, por exemplo, se propaga em todas essas dimensões - se pudéssemos ver o som, veríamos uma bolha que se afasta da fonte. Os pesquisadores observaram que, em campos magnéticos muito intensos e temperaturas entre 1 e graus Kelvin (por volta de -270º C) , as ondas magnéticas nos cristais de púrpura de Han se propagam em três dimensões, como seria de se esperar. Mas, abaixo dessas temperaturas, uma das dimensões torna-se inacessível.
Pesquisas como esta poderão ajudar a compreender processos importantes para a computação quântica, que deverá se valer de efeitos magnéticos em escala quântica para realizar diversos cálculos simultaneamente, de forma a fornecer respostas para problemas hoje inacessíveis. O processo envolvido no encolhimento dimensional também poderá dar origem a instrumentos de medição extremamente sensíveis, e estruturas microscópicas, muito menores que um chip de computador.