Especialistas querem enviar satélites para fora do Sistema Solar

FRÉDÉRIC GARLAN
da France Presse, em Paris

A Agência Espacial Européia (ESA) e sua equivalente americana, a Nasa, estão desenvolvendo um ambicioso projeto para lançar de forma conjunta esquadrilhas de satélites para fora do Sistema Solar, com o objetivo de descobrir se há vida em outros planetas.

Os projetos dos observatórios espaciais da ESA e da NASA, Darwin e Terrestrial Planet Finder (TPF), respectivamente, baseiam-se na utilização simultânea de satélites, que trabalharão em uníssono com uma precisão superior à de um relógio suíço, ou seja, de milésimos de milímetros. A materialização desses projetos só deve ocorrer em 10 anos.

Divulgação
Materialização do projeto da Agência Espacial Européia e da Nasa deve ocorrer em 10 anos
Materialização do projeto da Agência Espacial Européia e da Nasa deve ocorrer em 10 anos
Até agora, os cientistas utilizaram constelações de satélites para os sistemas de localização GPS ou de observação da Terra, mas, nesses casos, cada um dos aparelhos funcionava de forma autônoma, segundo Dominique Séguéla, especialista do Centro Nacional de Estudos Espaciais da França.

No entanto, realizar um vôo conjunto de vários satélites é indispensável para detectar, em planetas situados a centenas de milhões de anos-luz da Terra, eventuais indícios de água, gás carbônico e oxigênio, que poderiam indicar a presença de alguma forma de vida.

Para este tipo de missão, serão necessários telescópios com espelhos de várias dezenas de metros de diâmetro. Atualmente os dos maiores observatórios terrestres não chegam a dez metros, já que nenhum lançador é capaz de colocar em órbita aparelhos de grandes dimensões.

A solução é distribuir os espelhos entre vários satélites, conectados entre si e funcionando como um único instrumento: o interferômetro, cuja potência é proporcionalmente redistribuída entre suas partes integrantes.

Outra dificuldade dos projetos Darwin e TPF é que há apenas um lugar onde os satélites podem evoluir com a estabilidade necessária: 1,5 milhão de km da Terra, no segundo ponto de Lagrange, onde são anuladas as atrações entre a Terra e o Sol.

Como ponto de partida, os europeus testarão suas técnicas de "encontros" espaciais. No final de 2008, um instrumento derivado do GPS, completado por um emissor, voará sobre dois pequenos satélites suecos Prisma.

Superada esta primeira etapa, o mesmo dispositivo servirá até 2012 para o Simbol-X, um projeto franco-italiano, composto por um satélite espelho e um satélite detector, que se posicionará sobre uma órbita bastante elíptica em torno da Terra.

Ambos os satélites poderão se aproximar de 30 km a 30 m com uma precisão final da ordem de um centímetro. Esta fase "não é muito complicada. Em compensação, o movimento lateral não pode superar 0,1 milímetro e no entanto não alcançamos esse nível de precisão", afirma Séguéla. Os cientistas esperam obter esta exatidão com sensores que detectarão os diodos fixados nas laterais do satélite "escravo".

O próximo desafio da ESA será o Pegaso, com seus três satélites, enquanto espera lançar o Darwin, que poderia conter até uma dezena de satélites. "Com dois satélites, já é difícil. Mas, como acontece com as crianças, os verdadeiros problemas começam com o terceiro", sublinhou esta especialista.

Os cientistas terão de desenvolver sistemas de telemetria laser para manter a posição relativa dos satélites e desenvolver os motores destinados a realizar os ajustes necessários.

"O Simbol-X é de um nível de complexidade alcançável. O Pegaso já está muito acima e, por isso, preferimos ir por etapas. Em relação ao Darwin, ainda estamos na fase dos balbuceios", acrescentou Séguéla.