Dalai Lama: dois dias, duas platéias e uma única mensagem.
Nesta sexta, o Palácio das Convenções do Anhembi foi lotado por estudantes e profissionais de saúde, além simpatizantes do Budismo.
Ricardo Anderaos
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SÃO PAULO - Depois de falar sobre intrincados temas de filosofia tibetana para cerca de 2,5 mil praticantes de diversas correntes do Budismo quinta-feira, num templo em Cotia, o Dalai Lama encarou, nesta sexta-feira, 28, uma platéia bem mais variada. O Palácio das Convenções do Anhembi foi lotado por estudantes e profissionais de saúde, além simpatizantes do Budismo. Nesses dois dias, a palavra compaixão foi pronunciada centenas de vezes, nos mais diferentes contextos.
O evento de quinta-feira teve caráter religioso e ecumênico. O seminário, intitulado Natureza e treinamento da mente no Budismo tibetano, aconteceu no templo chinês Zu Lai, que abriga a Universidade Livre Budista, em Cotia. Participaram praticantes e líderes espirituais de todas as vertentes dessa religião presentes no Brasil, do Zen japonês às quatro escolas tibetanas, Nyingma, Kagyü, Sakya e Gelug - da qual o Dalai Lama é o líder máximo.
"As mensagens de compaixão, amor e autodisciplina são comuns a todas as grandes religiões, como o Cristianismo, o Islamismo, o Judaísmo e o Budismo. Todas reconhecem a importância das qualidades humanas e propiciam seu desenvolvimento", afirmou o líder tibetano. Ele acredita que a conversão de uma fé para outra pode ser uma transição perigosa, que cada um deve procurar a espiritualidade dentro das tradições de seu próprio povo. "Mas há exceções. Um brasileiro que tenha ligação cármica com o Budismo pode abraçar essa tradição", completou.
O evento desta sexta no Anhembi, que contou com o apoio da Escola Paulista de Medicina, discutiu pela manhã os desdobramentos éticos e espirituais da atividade dos profissionais de saúde. À tarde, um grupo de pesquisadores da Universidade Federal Paulista nas áreas de neurociências, psicobiologia, e psicologia debateu com o Dalai Lama as comunicações entre a ciência e o Budismo.
"Há alguns anos comecei a promover encontros e seminários sobre esse tema com cientistas reconhecidos. A partir deles, certos experimentos começaram a ser feitos. Pesquisas investigam qual parte do cérebro é ativada quando se faz meditação uni-direcionada, meditação baseada na compaixão ou meditação com ausência de pensamentos. Os neurologistas têm descoberto conexões interessantes entre esses diferentes estados mentais", afirmou.
Neste sábado, 29, das 10 às 12 horas, no Ginásio do Ibirapuera, o Dalai Lama faz uma palestra intitulada O Poder da Compaixão. Em seguida inaugura o Espaço Gandhi na Praça Túlio Fontoura, na esquina da Avenida Pedro Álvares Cabral com a Rua Abílio Soares. Das 15 às 17 horas, na Catedral da Sé, ele participa de uma celebração inter-religiosa pelo entendimento entre os povos.