Encíclica leva o homem a refletir, diz presidente da CNBB
Para o cardeal, a Encíclica, que trata do amor de Deus, vai nortear o papado de Bento XVI e passará a ser discutida a partir de agora nas dioceses e paróquias católicas de todo o mundo, buscando aproximar o homem ao conceito de amor propagado por Jesus Cristo, que é o de fazer o bem, ajudar ao semelhante sem buscar compensação para que se aprofunde a caridade. “O papa prega que o amor é um ato oblativo, de doação, não uma busca de satisfação pessoal, mas sim de amparo ao próximo, enfim o amor que vem do coração” comentou.
Explicou que Bento XVI também pede “uma motivação da caridade que seja a expressão (e no cristianismo ele deve ser isso) do amor que Cristo teve para conosco”. A igreja quer diferenciar certo tipo de “ativismo social e caritativo” praticado geralmente pelos políticos que buscam na verdade usufruir benefícios pessoais de uma “atitude caritativa cristã” sincera que busca fazer o bem independentemente de partidos políticos e ideologias. “A caridade não pode ser motivo de proselitismo visando arrebatar novos adeptos”, resumiu.
Sobre o amor conjugal, dom Geraldo disse que a Encíclica não condena abertamente a união de homossexuais, mas trata do assunto de forma implícita ao analisar o casamento. “A igreja quer que todos vivam o ideal de uma família humana, sem colocar ninguém à margem, todos com dignidade recebendo e dando o amor ao próximo, contudo, a constituição de uma família é a união exclusiva de um homem e uma mulher, não é uma promiscuidade”, disse, declarando que o casamento entre pessoas do mesmo sexo “não é união matrimonial”.
Bem recebida
A opção do papa Bento XVI por tratar do amor em sua primeira encíclica mereceu elogios de religiosos, filófosos e teólogos.
A seguir, a repercussão da encíclica papal:
Cláudio Hummes, arcebispo de São Paulo: “A primeira carta encíclica do papa Bento XVI trata do amor e de sua fonte, que é Deus. Então, nós pedimos que esse amor de Deus se faça presente nessa cidade e que nós saibamos amar uns aos outros”.
Luiz Felipe Pondé, filósofo e professor de Teologia e de Ciências da Religião da PUC-SP: “É um bom conceito teológico para começar oficialmente um papado. Isso passa uma boa imagem. Falar de amor é falar da preocupação com o outro. Falar de amor é lembrar que Deus tende a ser compreensivo”.
Hans Küng, teólogo suíço: “A encíclica esquece questões-chave sobre caridade e justiça na Igreja Católica, como com relação aos casais que usam anticoncepcionais, aos divorciados que voltam a se casar, ao clero protestante e anglicano. Joseph Ratzinger seria um grande papa se, a partir de suas palavras justas e importantes sobre o amor, aceitasse que elas implicam conseqüências valiosas sobre as estruturas da Igreja. Se poderia esperar que além da Congregação Católica Romana da Fé houvesse uma congregação de amor”.
Denis Vienot, presidente de Caritas Internationalis: “Esperávamos uma encíclica sobre temas como o ecumenismo e o diálogo inter-religioso. Ela constituiu um extraordinário chamamento a comprometer-se com a sociedade. Deus caritas est (Deus é amor) lembra que a Igreja deve lutar pela justiça social”.
Fernando Altemeyer, professor de Teologia da PUC-SP: “Acho bonito fazer um encíclica sobre o amor. Isso é raro. Normalmente as encíclicas são como programas de governo, definem prioridades”.
Biaggio Talento