Evolução é o "achado do ano", diz revista.

REINALDO JOSÉ LOPES

Era para ser uma lista das "grandes descobertas do ano", mas a maior publicação científica dos Estados Unidos resolveu dar uma forcinha a Charles Darwin e sua teoria de 1859 em seu rol dos "dez mais" de 2005. Para a "Science", achados que confirmam a teoria da evolução foram os mais importantes deste ano.

A decisão de colocar tais pesquisas, nenhuma delas exatamente revolucionária, no topo da lista publicada anualmente pela revista é um sintoma de como as idéias do naturalista inglês Darwin (1809-1882) andam acuadas nos EUA. Ou pelo menos andavam até esta semana, quando um juiz federal decidiu em favor delas e declarou inconstitucional o ensino em escolas públicas da teoria do design inteligente --uma suposta "alternativa" ao darwinismo que propõe que a vida teria sido diretamente projetada por um "designer" cósmico.

Além desse lado político, há uma ausência um tanto constrangedora na lista da "Science". É que a revista publicou o artigo científico mais celebrado do ano, de autoria do coreano Woo-Suk Hwang, da Universidade Nacional de Seul, que relata a criação de células-tronco embrionárias a partir de clones de pessoas doentes. Mas, em meio a uma série de denúncias sobre falta de ética e dados fabricados, Hwang decidiu pedir a anulação da publicação.

Por meio da assessoria de imprensa da "Science", o editor de notícias da revista, Colin Norman, afirmou à Folha que a pesquisa coreana nunca chegou a encabeçar a lista. "Mas ele esteve entre os primeiros colocados até as últimas fases do processo. Quando ficou claro que Hwang e seus colegas iriam cancelar o artigo, ele foi retirado da lista", diz Norman.

Entre os estudos destacados pelo periódico como novos esteios para a teoria da evolução darwiniana está a leitura do genoma do chimpanzé, anunciada em setembro por um consórcio internacional. O mapa quase completo do DNA do parente mais próximo dos seres humanos (separado do Homo sapiens há não mais que 7 milhões de anos) mostrou diferenças de 4% --um pouco mais do que se costumava estimar.

A revista destaca também estudos que obtiveram instantâneos do processo de surgimento de novas espécies. Pássaros europeus da mesma espécie, por exemplo, escolhem lugares diferentes para passar o inverno e achar parceiros, o que pode, ao longo do tempo, separar a população em duas.

Deixando para trás os detalhes da vida terrestre e chegando aos confins do Sistema Solar, o ano foi pródigo em marcos. Em janeiro, a nave não-tripulada Cassini enviou sua companheira, a sonda Huygens, para a superfície de Titã, satélite de Saturno.

Foi o primeiro artefato humano a tocar o solo da lua de outro planeta, revelando um mundo esquisitíssimo, de gelo e rochas embebidos em metano líquido.

Se o conhecimento humano sobre outros planetas está dando saltos, a "Science" também destaca que é preciso agir rápido com base no que já se sabe sobre a Terra e o aquecimento global pelo qual está passando.

Novos estudos mostraram que o furacão Katrina, que arrasou o sul dos EUA, pode ser só o primeiro de uma onda redobrada de tempestades turbinadas pelo fenômeno, o qual é estimulado pela queima de combustíveis fósseis. E o gelo do Ártico nunca derreteu tanto quanto neste ano. Para os cientistas, já passou da hora de fazer alguma coisa a respeito.