Brasileiros se preparam para enfrentar o furacão Rita.
RIO - Para tentar não repetir a tragédia provocada pela passagem do Katrina pelo Sul dos EUA no fim de agosto, os moradores do Texas - que deve ser atingido por um outro furacão, desta vez o Rita, no sábado - estão fazendo o que os que viviam na Louisiana não fizeram: levar a sério com boa antecedência a chegada do fenônemo. Nas prateleiras dos supermercados já não há mais enlatados, leite, água e pães. Encontrar combustível em postos está cada vez mais difícil. Nas estradas texanas, congestionamentos quilométricos rumo ao norte. O êxodo é testemunhado pela paulistana Alessandra Commans, de 21 anos, que mora em Woodlands, um subúrbio de Houston. Grávida de sete meses, ela contou que, da janela de sua casa, perde de vista o engarrafamento em uma importante rodovia.- O trânsito está caótico. As pessoas estão fugindo do litoral o quanto antes. Muitos carros estão parados porque não têm combustível para seguir viagem. Só espero que quando o Rita chegar essas pessoas não estejam presas no trânsito - relatou por telefone ao GLOBO ONLINE Alessandra, que se casou com um americano em janeiro e se mudou para Houston.
Alessandra e o marido não pretendem deixar sua casa, que fica em uma região alta, acreditando que não serão atingidos por uma eventual enchente. Para a segurança do casal e do bebê que está por vir, cortaram as árvores em volta da residência, estocaram água, alimentos e combustível, alugaram um gerador e cobriram as janelas com placas de madeira.
- Vivemos em um local alto, sem histórico de enchentes. Na verdade, a preocupação em Houston não é com a água, mas com a força dos ventos. Ao contrário da Louisiana, as pessoas aqui estão se preparando com boa antecedência - disse a fisioterapeuta.
Além da providência, Alessandra destaca outra diferença entre a expectativa em relação aos furacões nos dois estados:
- As casas no Texas são mais resistentes que as da Louisiana, que é um estado mais pobre. Aqui, os proprietários costumam reforçar o telhado de tempo em tempo, para evitar ser surpreendidos.
A professora Marisa Colbert conta que muito da apreensão de quem vive em Houston é causada porque até agora os meteorologistas não sabem precisar que parte do estado será atingida primeiro pelo furacão.
- O Golfo do México tem o que os especialistas chamam de barreira de alta pressão que está empurrando o vento para o lado direito. Antes a previsão era que o Rita atingisse a ilha de Galveston de frente. Mas agora ele parece estar indo para a divisa entre a Louisiana e Galveston e Beaumont, no Texas.
Marisa mora há três anos e meio com o marido americano e a filha no condado de Harris, no sudoeste de Houston. A parte mais baixa de Harris foi esvaziada por existe o risco ondas grandes vindas do canal Ship, que liga a cidade ao Golfo do México, inundarem a área.
- No começo eu estava mais apreensiva, mas à medida que fui me interando mais sobre o furacão fui ficando mais tranqüila. Estou numa região alta, não tem perigo de enchente. A apreensão é em torno da velocidade do vento por causa da estrutura das casas. O teto pode ir pelos ares - disse ela.
O médico Alexandre Frigini também não deixará Houston - mas por obrigação. Estará trabalhando em um hospital quando o furacão começar a castigar a costa do Texas.
"Não pude deixar a cidade porque terei que ficar de plantão no hospital. Minha casa e o meu carro serão provavelmente destruídos", escreveu ele por e-mail do GLOBO ONLINE. "Embora more nos EUA há 12 anos, eu nunca tive esta experiência. Faltam dois dias para o furacão chegar e embora esteja fazendo um dia lindo, a situação está caótica. Tudo parece surreal, como num filme de ficção científica", emendou.
Mas há quem não vê a hora de deixar o Texas e voltar para o Brasil. Depois de escapar por terra com a mulher e o filho de 2 meses e meio, ambos americanos, de Nova Orleans, às vésperas da chegada do Katrina, Rodolfo Araújo vai esperar a passagem do Rita em Dallas, para onde irá fugindo de Houston.
- Já fui duas vezes a Nova Orleans. Com a nossa casa não aconteceu nada, mas a impressão que eu tenho da cidade é a de ter acontecido a terceira guerra mundial - declarou o brasileiro. - Minha esposa é do Mississippi e as 20 casas da família dela sumiram. Já tinha sido traumático o que a gente passou, e agora passaremos pelo Rita de novo. É uma coisa que a gente não esperava a curto prazo - acrescentou.
Embora viva em San Antonio, no interior do Texas, a também brasileira Beatriz Alves contou por e-mail ao GLOBO ONLINE que a população está "temerosa e traumatizada com o que aconteceu em Nova Orleans". Prevê-se que o furacão, ao tocar a terra, perca sua força rumo ao interior e atinja San Antonio como uma tempestade tropical.
"Na rua está um dia lindíssimo, sol de verão ainda, mas no ar já se sente um quê de grande preocupação, as TVs só falam no Rita. O presidente Bush ja está um farrapo, não sabe mais ao que atender", disse Beatriz.